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BallasCast – Episódio 03 – I am from Brazil

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Transcrição - Episódio 03 #BallasCast


Senhoras e Senhores, ladies and gentlemans, ragazzos e ragazzas, madames e messieurs …


Esta começando mais um… BallasCast


Músicaaaa.


Olá novamente…


Que bom que você aguentou os dois primeiros e tá aqui no terceiro episódio desse BallasCast.


Como eu falei, vamos ter aqui entrevistas, improviso, vamos ter salada de fruta, muita coisa gostosa.


Se você tiver alguma sugestão do que eu posso falar aqui, quem eu posso trazer pra entrevistar e improvisar — ou sugestão do que que eu posso falar que vai ser bom pra você. E se você quiser dar algum feedback, fazer algum comentário, entra no grupo Ballascast no Facebook, ou comenta na minha página mesmo Marcio Ballas. Sua opinião é muito importante para nós, digo para MIM, afinal EU, SOMOS NÓS.


Então vamos ao terceiro episódio da minha história…


(música)


 


I AM FROM BRAZIL.


 


Como eu tinha falado no episódio anterior, finalmente eu cheguei na porta da sala do Michael Christensen, que foi o fundador desse projeto de palhaço em hospital. Finalmente eu entrava pra falar com ele.


Eu achei que eu ia ter a recepção de um palhaço, um cara que ia me abraçar, alguém que ia me jogar uma, espirrar um pouquinho de água, alguém que ia me dar flores… MAS NÃO!


O cara foi muito seco, sentado na cadeira dele assim, e eu já entrei assim meio feliz e ele tava lá e a primeira pergunta que ele me fez foi: “What can I help you?.


“Então Michael, I am from Brazil, I am… I quit my job. Eu larguei tudo porque eu quero ser palhaço profissional e eu quero muito trabalhar aqui com vocês”.


Ele falou: “Ah tá então, no momento a gente não tá precisando, você deixa seu nome, seu currículo, assim que a gente precisar e abrir seleção a gente te liga”.


Eu falei: “Não, não. Mas você não tá entendendo. I’M FROM BRAZIL. E eu vim pra cá PRA ISSO e tal”.


Aí ele falou: “Olha legal, bom saber, mas assim, não tamo precisando”.


“Não, mas você não está entendendo. Eu larguei tudo, eu deixei minha carreira. Eu tinha dez anos que era dono de papelaria, eu deixei tudo pra trás. EU PRECISO TRABALHAR AQUI COM VOCÊS”.


Ele falou: “Sorry! Now we don’t need!”.


“Não. VOCÊ NÃO ESTÁ ENTENDENDO, EU NÃO PRECISO TRABALHAR, EU NÃO PRECISO GANHAR NADA… PODE SER DE GRAÇA. Eu fico assistindo. Estagiário, sem remuneração, sem grana, sem nada”.


E ele foi muito incisivo. E ele me negava, negava, negava, negava e eu fui ficando desesperado e cada vez mais eu insistia, até que um momento ele falou:


“OK, o que eu posso fazer é te deixar assistir UM dia do trabalho do palhaço no hospital”.


E eu como prêmio de consolação, percebi que era hora de me retirar, agradeci e fui embora triste e desolado, afinal, não era lá que eu ia ser palhaço em hospital.


Mas… Passou uma semana eu fui lá assistir duas palhaças trabalhando no hospital. Uma das palhaças era Hilary Chaplain, é uma super palhaça. Então foi muito legal, uma experiência incrível de assistir, ver como que eles faziam o trabalho no hospital. E ela ao final foi muito generosa e eu falei: “Escuta Hilary, eu tô aqui, acabei que eu fiquei aqui em Nova Iorque. Eu tô procurando clown pra trabalhar, pra estudar”. E ela me deu algumas indicações, me deu alguns telefones e eu fui atrás desses caras.


Um dos caras chamava-se Avner Eisenberg, e eu liguei pra ele, pra casa dele. E o cara foi muito gentil, me contou que ia dar um curso no Celebration Barn Theatre, que era uma escola que ficava a seis horas de Nova Iorque, no meio de uma fazenda, no meio do nada.


Eu liguei lá pra fazenda, pra me inscrever pro curso, e para minha decepção estava lotado. Eu fiquei mal, e o próximo curso ia ser daqui a seis meses.


Eu falava pra moça “NOOOO, LISTEN…I AM FROM BRAZIL. I CAN’T STAY SIX MONTHS”.


Ela falou: “SORRY, SORRY”.


“I’M FROM BRAZIL. PLEEEEAASSSEE”.


Aí ela falou: “Não. NÃO DÁ”.


Eu liguei de volta: “AVNER…YOU KNOW…THE GUY FROM BRAZIL E TAL…PLEEEEEEASSSE”.


Ele falou: “Olha, eu até te daria licença para entrar no curso, mas assim, lá vocês dormem no lugar. Não tem lugar físico”. Aí eu fiquei ARRASADO.


(Música).


Ainda assim, vi que lá tinha outros cursos e achei um curso de mimica. E um mês depois, lá fui eu pro curso de mimica, ali a seis horas de Nova Iorque, pra aprender pelo menos alguma coisa de mimica.


O curso se passou, foi muito legal. No penúltimo dia de curso um parente do professor morreu e aí o curso foi cancelado nesse dia. E eu lembrei que o Avner me falou que morava ali por perto.


Então eu liguei pra ele e falei: “HI AVNER…I’M MÁRCIO…I’M FROM BRAZIL”.


Aí ele falou: “Oooh”, muito simpático tal, tal, tal.


Eu falei: “Escuta eu tô aqui no Celebration”.


Ele falou: “Ai que legal que cê veio e tal”. Aí ele falou: “Olha tá tendo um barbecue, um churrasco aqui em casa, você quiser cê vem pra cá”.


Aí eu falei: “Ah é?… Mas onde você mora?”.


Ele falou: “Não, daí da onde você tá são duas horas, cê tem que ir até Portland, duas horas de carro e depois você tem que pegar uma balsa porque eu moro numa ilha”.


Aí eu falei: “Nossa impossível, eu não tenho carro, eu tô aqui no meio de uma fazenda, IMPOSSÍVEL EU CHEGAR AÍ”.


Ele falou: “Ah tá bom… Que pena. Bom, boa sorte aí pra você. Um abraço. Um abraço”. E Tchau.


Quando acabou esse telefonema, fui encontrar a turma e a turma tava se organizando e um cara veio me perguntar se eu queria ir no cinema.


Eu falei: “Não, eu não entendo tão bem inglês, não dá pra eu ir no cinema”.


Ele falou: “A tá, é que a gente tá indo lá pra Portland”.


Quando ele falou Portland eu falei: “Opa! Vocês vão pra Portland?”.


Ele falou: “Vamos!”.


Eu falei: “Escuta! Você me daria uma carona pra lá?”.


Ele falou: Claro! Mas pra quê?”.


Liguei de volta pro Avner e expliquei pra ele: “Olha Avner a gente tá… Eu consigo ir pra Portland”.


Aí ele me deu as indicações, me falou que eu tinha que ir até onde pegava a balsa, pegar uma balsa, essa balsa passava em três ilhas diferentes, a terceira ilha era a dele. E aí ele poderia até me buscar ali onde a balsa desembarca.


Eu falei: “NOSSA!”.


Eu perguntei pros caras, eles toparam me deixar lá, durante o tempo do cinema. Quer dizer… O tempo era absurdamente curto, era uma loucura fazer aquilo que eu tava fazendo, mas EU FUI.


Então viajei duas horas de carro, eles me deixaram lá e foram ao cinema.


Peguei a balsa (aquela balsa americana, com horário exato), passei por três ilhas e na terceira ilha tava lá ele me esperando.


Eu nem conhecia ele (mais tarde eu fui descobrir que ele era um dos maiores palhaços do mundo) É O MELHOR palhaço que eu já vi na minha vida, mas eu não sabia disso. Então o cara mega generoso, foi me receber ali, onde desembarcavam as balsas.


Aí eu vi ele né?… Quer dizer uma pessoa procurando outra… Uma pessoa procurando…né? SEMPRE se acaba se achando.


“Hi Márcio. Hi nice to meet you!”, tal. “Vamos lá”.


Eu fui com ele até a casa dele e tal e chegando lá tava rolando um churrasco pros amigos dele. E eu tinha um tempo muito curto, porque era o tempo da galera ir no cinema e me pegar de volta, quer dizer, eu tinha duas horas e meia apenas. Só que o cara tava no meio do churrasco e eu não conseguia conversar com o cara. E a esposa do cara lá, ele me apresentando pros amigos, e eu converso com o filho. Mas eu queria falar com o cara e não conseguia falar com o cara porque ele tava no meio do churrasco e eu não podia interromper todas as conversas pra fazer as minhas perguntas á ele.


Num momento ele foi na direção da cozinha, eu fui atrás dele e eu falei: “Avner, eu tô aqui porque eu tô tentando achar palhaço em Nova Iorque e eu não tô conseguindo. Tô achando só esses palhaçoes de circo que fazem malabares, tortada na cara. Mas eu queira fazer o clown mesmo, e eu não tô achando… Onde que eu acho isso? Que canto de Manhattan tem alguém, ou uma escola incrível?”.


E aí ele falou: “Márcio, IF YOU WANT STUDY CLOWN, YOU HAVE TO GO TO LECOQ SCHOOL IN FRANCE”.


Eu falei: “QUÊ?”.


Ele falou: “É… Se você quiser estudar clown, você precisa ir pra França estudar com Monsieur Lecoq na França”.


Eu falei: “Não, não. Eu tô aqui em Nova Iorque. Imagina que eu vou pra outro continente. Eu já estou estabelecido, achei um trabalhinho. Eu quero ficar em Nova Iorque”.


Ele falou: “NO. NO. NO. IF YOU WANT STUDY CLOWN, YOU HAVE TO GO THERE. AND MORE, HE’S AN OLD MAN. E ELE NÃO VAI, ELE TÁ VELHO. ELE NÃO VAI DAR AULA POR MUITOS ANOS”.


Aí eu fiquei com aquela informação na cabeça, a esposa dele chamou, nisso é hora de ir pra balsa. Eu agradeci ele, o cara foi muito gentil, muito bacana. E eu fui embora com aquela pulga na orelha.


(música)


A turma me resgatou, voltei para o meu curso. Meu curso acabou.


Um dia depois estava eu de volta em Nova Iorque com essa questão na cabeça:


(França?! Mas é muito longe! Como é que eu vou pra França agora, agora que eu tô me estabelecendo aqui?).


De qualquer jeito fui atrás da escola, achei a escola onde era, vi o que precisava fazer pra escola, pra mandar meu material pra escola pra ver se eu entrava na escola.


Quando eu entrei no site da escola de teatro da Escola Internationale do Théâtre Jacques Lecoq, eu vi que era uma escola assim… que vinha gente do mundo inteiro, super difícil de entrar, eles pediam duas cartas de recomendação, currículo, cinco anos de experiência de teatro … então lá fui eu!


Fiz um currículo. Aí eu tava fazendo um curso em Nova Iorque com o Cristopher Bayes, pedi uma recomendação pra ele, ele me deu, e mandei pra escola pra ver o que dava e continuei minha aventura em Nova Iorque. Estava tudo legal, trabalhava na Burk & Burk vendendo sanduíches na hora do almoço pelos prédios em Nova Iorque.


Em fins de semana eu era clown, do Best Clown, naquela agência incrível que me mandava em vários lugares, me mandava no Harlem, no Bronx, nos fins do mundo, mas era legal, porque era um troco, era uma grana, e eles estavam gostando de mim, então cada vez mais me dava um trabalho pra fazer no final de semana.


Passado uma semana, eu mandei o meu material e liguei pra escola.


Liguei pra escola, a moça não falava inglês direito então tive que arranhar o pouquíssimo francês que eu tinha.


E ela falou: “Ah tá! A gente recebeu seu material tal. A escola começa em Setembro do ano que vem e a gente vai passar você no processo de seleção”.


Eu falei: “NÃO…CALMA… SETEMBRO-DO-ANO-QUE-VEM?” Não eu quero ir em setembro, outubro desse ano agora (começava em primeiro de Outubro e a gente tava em Agosto).


Ela falou: “Não. Pra esse ano já está tudo completo”.


Aí eu falei: “Mas como assim COMPLETO?”.


Ela falou: “É… Desde Abril está fechado”.


Não é Brasil né?


Aí eu: “Ah meu Deus! Mas escuta… I’M FROM BRAZIL, I’M FROM BRAZIL… I WANT TO GO NOOOWWW”.


Ela falou: “Não, não, não. Lá agora tá lotado. Vamos ver… Você vai entrar na seleção pro ano que vem, quem sabe você passa”.


Bom… Fiquei mais uma vez desolado.


Passado uma semana liguei de novo pra escola e ela: “Hi Márcio”, aí eu fui ficando amigo dela que era secretária da escola… O mais baixo escalão da escola era ela, mas eu senti que ela realmente era alguém que mandava lá.


Então eu fui ligando a cada dia, a cada semana, fui ligando, fui ligando.


Até que um dia ela me falou: “Márcio, você foi aprovado, então ano que vem se você quiser, você pode vir pra cá”.


Aí eu falei: “Merci beacoup, Michelle. Merci, Merci. MAS… Je suis brasilien. Je suis brasilien. Je ne peux pas attendre. Não posso esperar mais um ano”.


“Mas agora tá lotado, a escola começa em três semanas… IMPOSSÍVEL”.


Eu falei: “S’il tu plâit. S’il vous plâit. TAL, TAL, TAL, E ammm…brasilien.


E ela ria, sempre ria, ela achava muito divertido o brasileiro doido ligando pra ela, mas nada disse, nada disse.


Bom… Passou duas semanas e eu recebo um fax, mais uma vez o fax é, naquela época existia o fax, e era um meio de comunicação. E eu recebo um faz dizendo:


“Márcio, você foi aprovado e uma das pessoas que ia vir pra esse ano desistiu, então se você quiser você tem até amanhã pra me dizer se você quer entrar na escola. Se você quiser entrar na escola, eu preciso que você esteja aqui em Paris em dez dias”.


Em dez dias eu tinha que largar tudo em Nova Iorque, e cruzar o continente e ir pra Paris.


Nesse momento, eu fiquei novamente com uma dúvida cruel. Primeiro porque ela me mandou o currículo da escola e eu percebi que essa escola era uma escola incrível, mas era uma escola de teatro físico, isto é, você aprendia movimento, você aprendia acrobacia, você aprendia esgrima, você aprendia a mexer com os animais, você aprendia um monte de coisa, e clown era a última coisa que tinha na escola. E eu achava que era uma escola que era só de clown e não, era uma coisa muito mais formal, mais completa mas não era exatamente o que eu estava buscando.


E segundo, porque em dez dias eu tinha que tá em Paris.


Eu fiquei num dilema cruel, porque eu tava gostando de Nova Iorque, eu tava morando na casa do meu amigo Ivan, e eu tava, tinha amigos, eu tinha trabalho. E aí um dia eu saí pra jantar com esse meu amigo, assim tô nesse dilema tal, e ele me fez uma pergunta do universo dele (que ele trabalhava em banco).


Ele falou: “Mas eu não tô entendendo. Essa escola é tipo um MBA dos clowns?”.


E eu achei aquilo engraçado né? E eu falei: “É você tem razão! É tipo isso!”.


Ele falou: “Ah… Então vai!”.


Tomei a decisão de ir, mandei o fax de volta. Em dez dias eu estava em Paris para fazer a École Internationale de Théâtre Jacques Lecoq.


 


FIN DU CHAPITRE.


Muito bem, muito bem, muito bem, chegamos ao final do terceiro episódio (AAAAAAAAHHHHHHHHHHHH), mas segunda-feira que vem tem mais (EEEEEHHHHHHHHHHHHHHHH).


Muito obrigado por emprestar seus ouvidos, seus tímpanos para mim.


Deixe seu comentário, qualquer sugestão, o que você quiser no grupo do BallasCast, ou na minha página do Facebook Márcio Ballas.


Assiiiina.


É. Assina o BallasCast pra quem não sabe no iPhone já tem esse aplicativo, éé, eu mesmo não sabia (estou falando como se eu soubesse, mas já tem), no Android sei lá se viram porque eu não tenho, mas assina, assina o BallasCast.


E vamos agora ao momento merchan… (música)


 


“Márcio, eu sou presidente de uma grande multinacional e quero contratar a sua palestra de improviso e criatividade, como é que eu faço?”


 


É fácil. Entre no www.marcioballas.com.br (com dois “ls”) e lá você pode mandar uma mensagem e em breve eu estou na sua empresa.


 


“Ooh Márcio! Eu sempre quis assistir o seu espetáculo, onde é que você se apresenta?”


 Se você estiver em São Paulo, todas as quartas feiras no Comedians Club, éééé, as 21:00h, noite de improviso, não perdaaa.


 


“Ooh Márcio! Como é que eu faço pra fazer curso que eu sou um pouco tímido assim né, sabe como que é, eu queria dar uma destravada”.


 Casadohumor.com.br tem curso de improviso, curso de palhaço, curso de stand up. Dá uma olhada. Pra qualquer pessoa acima de 16 anos e que tenha um dindin pra poder pagar.


Voilà, voilà, voilà, chegamos ao final desse chapitre.


 


MERCI BEAUCOP.


MERCI SEM CU.


MERCI PARTU


 


E ATÉ BREVE!!!