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BallasCast – Episódio 05 – Aventuras na Bélgica

 

Clique aqui para ler a transcrição do episódio.


Senhoras e senhores, ladies and gentlemans, madames et messieurs, astronautas e astronautos.


Está começando mais um… #BALLASCAST


Música!


Olá, olá, olá, muito obrigado pela sua presença, presença no lugar onde você esta, afinal você não está presente, mas está SEMPRE presente.


Que legal que você está ouvindo de novo. Pra quem não sabe eu comecei contando a minha história, então quem não ouviu, ouve lá pra trás, vai ver como eu cheguei até aqui. Aqui no BallasCast você ouve várias coisas da minha história, em breve entrevistas com pessoas legais, improvisando, entrevista com improvisadores e um monte de coisa muito direitinha, legal, bacana e divertida. Então vamos a mais um episódio da minha história… NOW!


 


AVENTURAS NA BÉLGICA (Belgic)


Assim que eu acabei a escola do Jacques Lecoq, ele infelizmente faleceu, como eu contei no episódio anterior, então eu fui fazer um outra escola chamada Le Samovar, que era uma escola específica de palhaço. Eu fazia um curso que era só de palhaço, todos os dias, com um professor chamado Frank Dine, e era muito legal, comecei a ter uma turminha, comecei a conhecer amigos palhaços, que faziam já pequenas coisas de palhaço em Paris com um dos meus amigos chamado Marco Veran, a gente queria experimentar fazer um show na rua. E lá fomos nós morrendo de medo, que que a gente pode fazer, que que a gente pode fazer, e uma coisa que a gente viu, é que lá tinha muito estátua viva. Sabe aquelas estátuas que ficam parada no centro da cidade? (aqui também tem) aí ela fica lá parada, parada, e quando as pessoas dão dinheiro elas se movimentam, então a gente ficou lá, fomos experimentar fazer, só que a gente não conseguia ficar parado. Na real a gente percebeu que aquilo tinha uma técnica né? Então a gente não conseguia ficar, é, realmente muito ruim. Então a gente começou a fazer as estátuas vivas que mexiam. Tipo assim, a gente era estátua viva que não conseguia ficar de estátua viva. E era tão tosco, tão tosco, que as pessoas riam e davam uns trocos pra gente e foi uma das primeiras apresentações que eu fiz na minha vida, foi de estátua viva na Pont des Arts, lá em Paris.


E lá pesquisando sobre palhaço, uma amiga me contou que tinha um cara na Bélgica que fazia um curso, de Clown relationnel. Clown relacional. Era um curso na Bélgica sobre palhaço em hospital, e eu fiquei muito encantado porque realmente a minha busca inicial era fazer palhaço em hospital, eu tinha esse sonho ainda né!? Desde o Brasil, Doutores da Alegria. Depois tentei em Nova Iorque e não consegui. E agora na França eu achei um curso que era na Bélgica e eu me matriculei e eu fui durante um ano inteiro, fazia quatro viagens por ano pra estudar com esse cara lá na Bélgica. Então me inscrevi, muito feliz, e no primeiro dia de curso, eu tinha que chegar lá, começava às 8 da manhã, e eu não tinha grana. Então eu tive que pegar o trem muito, muito, muito cedo, e lá fui eu em direção a Bélgica, estudar com esse cara.


E logo na minha primeira viagem, aconteceu que eu dormi durante a viagem e quando eu acordei, eu saio do trem e eu vejo as coisas assim escritas numa língua estranha, e eu falei: “Pô! Mas na Bélgica escrito em alemão?”. Bom, quando eu fui ver eu tinha passado a estação, perdi o ponto literalmente e fui parar na Alemanha (EEEHHHHH), Dont Quechan, e eu tinha que voltar e eu não tinha dinheiro, porque na época não tinha o Euro então cada país tinha sua moeda. E eu falei: “Cacete, como é que eu vou voltar agora?”. Enfim, voltei pra estação, me enfiei num trem de volta e fiquei rezando pra não ter fiscalização, porque lá tem isso né? Eles confiam que você vai pagar, mas se tem fiscalização você se ferra. Enfim, consegui voltar sem fiscalização e cheguei lá no primeiro dia do curso.


E esse curso foi um dos cursos mais incríveis que eu fiz na minha vida, por que? Qual é a ideia do cara? A ideia do cara é que é diferente o trabalha do clown de espectat, o do clown do espetáculo, pro clown que ele chama relacional, que é esse palhaço do hospital. E qual é a diferença? A diferença é a seguinte: Quando você vai, o palhaço fazer um espetáculo, você tem um roteiro, uma história que você vai mostrar ao público, um número que você apresentou, e tá tudo centrado em você. É você que prepara tudo o que vai acontecer e o público vem te assistir. Já no clown relationnel, nesse clown relacional, quando o palhaço vai ao hospital o que ele busca é a relação, ele quer encontrar o outro. Ele vai acompanhar o outro, né? Como alguém que vai cantar e tem alguém que vai acompanhar, ele vai seguir o outro. Então se o outro desafina e dá uma ralentada, opa, ele ralenta na música, ele avança, ele avança junto, ele vai acompanhando. Inclusive acompanhar significa “COMER O PÃO COM…”. Olha que bonito, Márcio Ballas também é cultura.


Então quer dizer, quando o palhaço no hospital ele chega, ele vai estar para o outro o tempo todo, vendo o que o outro está precisando, o que o outro está gostando, o que está funcionando. Então mais importante do que o que ele veio preparado pra pensar ou pra fazer é, o que vai acontecer nessa relação. É o encontro. ENCONTRO COM “E” MAIÚSCULO que vai acontecer a partir dessa relação.


(música).


Nisso foi um curso incrível, porque eu aprendi lá, na prática e na teoria, porque é um cara que estudou muitos anos, como é que se trabalha em hospital. Inclusive, lá na Bélgica, tem um história muito interessante, porque eles começaram a fazer esse trabalho que eles chamavam de cliniclowns no hospital e aconteceu que um desses grupos, um dos caras deu um furto, deu um golpe, não acontece só no Brasil isso, lá também. Então como um cara desses deu um golpe e foi descoberto, eles eliminaram todo e qualquer trabalho de palhaço em hospital, acabou sendo uma coisa mal vista. Era uma coisa que tavam iniciando lá na Bélgica e acabou que eles não, não liberaram mais.


E esse cara chamado Christian Moffarts, ele teve que estudar, pesquisar muitos anos. Até que ele chamou uma banca que vinham médicos da Bélgica e do Ministério né? Da Saúde. E ele teve que defender o porquê que o palhaço serve no hospital. Pra quê que serve o palhaço no hospital. Naquela época aquilo não existia, então ele teve que defender. E na defesa dele, ele contava algumas coisas que a gente fazia no curso que eram o seguinte: O primeiro… O PALHAÇO ELE É UM MESTRE DA COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL, então alguém que está no hospital, por exemplo, uma criança ou uma pessoa com deficiência que não consegue se comunicar, ela não vai poder falar tudo que está sentindo ou que está pensando. O PALHAÇO COMO ELE É UM MESTRE DA COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL. Ele tem esse jogo físico, ele tem esse jogo olho no olho. Ele consegue se comunicar e estabelecer essa relação com a pessoa que está do outro lado. Assim sendo, ele vai fazer com que essa criança resgate um pouco da alegria e daquela coisa que ela tinha de saúde, antes dela entrar no hospital, e isso vai fazer com que ela tenha uma melhora mais rápido. Porque aquilo realmente ajude na cura dela. Enfim. Ele conseguiu defender. Os caras aprovaram com louvor. Inclusive um dos hospitais contratou para fazer um trabalho com toda a equipe do hospital. E aí ele começou a fazer esses cursos de clow relacional, e eu fui lá. Curiosamente eu era o único ator. Por quê? O que que eram as outras pessoas? Eram pessoas, curadores que trabalhavam dentro do hospital. Tinha médicos, enfermeiras, o cara que leva as pessoas na maca. Tinham pessoas que trabalham no hospital, e pra quê que serve o palhaço pra um cara que trabalha no hospital? Ele serve exatamente pra gente levar a coisa do palhaço pro curador, por exemplo, um médico, uma enfermeira que está atendendo um paciente, ele tem que olhar no olho, ele tem que se comunicar com o outro de verdade.


Uma das enfermeiras que tava lá contou uma história que eu acho muito incrível. Ela contou que ela estava passando em visita, junto com um médico a todos os quartos de um hospital e o médico tava lá, ele chegava e perguntava: “Ah! Pois não? Seu nome? Como você tá se sentindo?… Ok. Muito obrigado”. E saia. Muito frio. E num dos quartos ele entrou e então :


— “Como é que você está se sentindo hoje?”.


E ai não veio nenhuma resposta e a enfermeira falou pra ele:


“Doutor, o paciente tá no banheiro”.


Quer dizer, o médico não olhava pro paciente. E isso é muito grave.


Eu passei a ir a cada três meses pra Bélgica, daí já não perdia a estação do trem né? Eu conseguia achar sozinho (UHHHUULL).


E no final do curso você faz uma série de dez visitas para hospitais. E é muito legal porque ele divide em três SEGMENTOS. O primeiro são crianças né? Então crianças em hospital. Você visita as crianças em hospital, tem relação, ele faz uma supervisão, ele assiste, ele te dá feedback, é muito incrível. A segunda coisa que ele chama ele chama de person sage, que são terceira idade, são velhinhos. Então eu fiz algumas visitas em asilos, e é muito legal porque você percebe que o palhaço ele também funciona com velhinhos. E funciona muito. Por mais que no começo às vezes eles estranhem por ser uma imagem teoricamente infantil né? Por que às vezes o palhaço está associado com a criança, por que é uma bobagem, por que o palhaço, ELE É PRA TODO MUNDO, o palhaço não é infantil né? Essa é uma deturpação que veio das porcarias tipo Ronald McDonalds, ou daquele tio que enfia o nariz vrmelho e vai assustar… Quer dizer, animar a festa das crianças. O palhaço não é uma figura infantil. O PALHAÇO ELE SURGIU NO CIRCO COMO MAIS UM ELEMENTO, é que de uns anos pra cá ele começou a ser muito associado porque as crianças gostam muito né? Então a gente fazia palhaço com os velhinhos, a gente entrava nos asilos.


Eu me lembro de um deles a gente foi tinha uma senhorinha que era uma senhora cega. ENTÃO ISSO QUE É ARTE DO PALHAÇO. Ela é cega, tudo bem, eu vou me comunicar de outra maneira. Eu falo, eu sei que ela está me ouvindo. Aí eu comecei a descrever a outra palhaça como era pra senhorinha e ela riu. Aí a outra palhaça começou a me descrever e me sacanear: “Ele é compridão. Tem umas trancinha esquisita!”. E ela riu. Aí ela achou que a gente tava brincando. Tipo, achou que era sacanagem. Aí a gente falou: “Não. É sério! Me dá sua mão!”. Aí a gente pegou a mão dela colocou no nariz. Aí ela falou: “Nossa, um palhaço! Quantos anos que eu não vejo um palhaço”. E aí a gente ficou no quarto, e ela ficou contando as histórias da vida dela, ela entrou no universo da vida dela, então de repente aquela mulher foi transportada pra história dela. Então, esse é que é o poder da relação né? E o terceiro segmento era o que ele chamado de person different, pessoas diferentes, pessoas com deficiência. Então eu fui alguns dias visitar um hospital psiquiátrico. Incrível, porque novamente você vê o palhaço na arte do “aqui-agora”, na arte do momento presente, olhando pra aquela pessoa que está do outro lado. Por que ela não comunica necessariamente igual a uma pessoa, entre aspas, normal. Porque às vezes ela não fala. Às vezes ela tem outro jeito de comunicar. Então lá fomos nós.


E eu me lembro de um dos moleques, a enfermeira falou: “Não, esse menino ele é autista. NEM ADIANTA FALAR COM ELE!”. Mas o palhaço ele sempre acredita que vai acontecer a relação e a gente foi lá, eu e minha dupla. E a gente tentou falar uma coisinha. Um “Bonjour” não rolou, a gente tentou umas bolinhas de sabão não rolou. Aí uma hora ele fez um barulho “GGGGGGGGRRRRRRRRRRRRRRR”, o moleque fez. Aí a gente fez: “GGGGGRRRRRRRRRRRR”. Aí o moleque deu uma risada e fazia: “GGGGGGGGGGGGGRRRRRRRRRRR”. Ai a gente fazia: “GGGRRR GRRRR”. Aí o moleque fazia: “GGGRRR GGGRRR”. E era muito louco, porque a gente tava vendo que a gente tava comunicando, tipo PRIMITIVO MESMO. Como se você falasse com alguém que a língua dele é: ”GGGRRR GGGRRR GGGRRR”.


E aquilo foi muito legal, muito bacana, e muito impactante de ver que você consegue se comunicar só que as maneiras de comunicação são outras.


Enfim, eu fiz as dez saídas que eram exigência do curso final, e finalmente eu era formado no Institute de Clown Relationnel, e eu era oficialmente um Clown Relationnel, um palhaço relacional, com diploma e tudo.


Fim.


Muito bem, muito, muito bem, chegamos ao final, triste final de mais um episódio (AAAAAHHHHH) 🙁


Mas segunda-feira que vem tem mais (EEEEEEEHHHHHH) o/.


Lembrando que você pode assinar o BallasCast!


Pra quem tem iPhone é só assinar ali no aplicativo que você já tem.


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E vamos agora para o momento merchandising…


“Oh Márcio, eu sou diretor comercial de uma empresa muito importante e eu queria contratar a sua palestra de improviso e criatividade!”.


É fácil, marcioballas.com.br, manda um e-mail e em breve estaremos na sua empresa. Isso aí chegamos ao final de mais um BallasCast.


MUITO OBRIGADO POR TER EMPRESTADO O SEU APARELHO SONORO PARA NÓS, OU PARA MIM, OU PARA VÓS, OU PARA EU, OU PARA TU, OU PARA ELE.


Na segunda-feira que vem tem mais.


MUITO OBRIGADO.


THANK YOU VERY MUCH!