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BallasCast – Episódio 06 – A festa na casa da Ministra

BallasCast | Ep 06 - A festa na casa da Ministra

Clique aqui para ler a transcrição do episódio.


Senhoras e senhoras, ladies and gentlemans, madames et messieurs, arquitetos e arquitetas.


Está começando mais um… BallasCast. Música!


Olá, olá, olá, seja muito bem vindo de volta ao BallasCast, tô realizando um sonho aqui, eu sempre quis fazer um programa de rádio. Eu sempre quis falar com uma voz de programa de rádio, mesmo sendo “fanho”. E você está aqui comigo. Então quer dizer, aí contigo. Enfim, aqui conosco no BallasCast.


Como eu falei, aqui eu vou trazer pessoas pra improvisar comigo, vou trazer gente que não improvisa pra improvisar. Mas eu resolvi começar contando as histórias da minha vida, como é que eu virei, de dono de papelaria pra palhaço, improvisador, palestrante e isso tudo o mais que eu faço hoje em dia.


Sendo assim vamos ouvir mais um episódio da minha history of my life.


 


A FESTA NA CASA DA MINISTRA.


Eu já estava no meu terceiro ano em Paris. Eu continuava cuidando de um menininho — fazia babysitter de um menininho de quatro anos, quer dizer, agora já estava com seis anos, o pequeno Luka. Buscava o moleque na escola, brincava com ele, devolvia ele pros pais no final do dia e, fazia pequenos trabalhos que apareciam: às vezes trabalhava de garçom, trabalhava numa loja que mudava coisas de antiguidade, então ajudava o cara a carregar umas peças. Então eu fazia um monte de coisas que apareciam, e uma das coisas que eu fazia eram as festinhas de aniversário de crianças no final de semana.


E eu comecei a ver que esse trabalho tava rendendo grana, era um trabalho que ele pagava bem, e eu precisava investir mais nele, então o que eu fiz? Eu fui atrás de várias outras agências e mandei meu currículo — na época se escrevia um currículo, e eu mandei pra várias, várias, várias agências e eu achei uma agência que tinha um nome bem judaíco, um nome que tinha uma palavra em hebraico e como eu sou judeu, eu falo hebraico, morei um ano em Israel, eu estudei em escola judaíca, minha família é judia, eu falei: “Poxa! Tá aí um mercado que eu posso atacar”. E eu fui pessoalmente visitar essa agência.


O dono me recebeu, o dono chama Mocher, e eu contei pra ele: “Ah tudo bem! Eu sou judeu, eu tô trabalhando aqui na França, eu faço animação em festinha já lá no Gogote Palisier e não sei o quê lá”. Ele falou:


— “Ah! Você é judeu?”


— É .


Ele falou:


— “Você fala hebraico?”


Eu falei:


—“Falo.”


(Eu falava um hebraico razoável).


Ele falou:


“Poxa, que incrível! Eu não tenho animadores que falem hebraico e eu trabalho muito com a comunidade judaíca”.


Inclusive ele contou que ele tinha um dos palhaços que foi animar uma festa de uma família muito religiosa, numa Sinagoga. Então o cara chegou lá sem saber, e na hora de subir no monociclo, o cara fazia uma brincadeira que ele tentava subir no monociclo e o monociclo batia nas bolas dele, e ele colocava a mão no saco assim: “Aiiii, aaiii, minhas bolas, minhas bolas” — isso dentro da Sinagoga. Então os caras lá, os Rabinos — eles começaram a ficar desesperados. Aí ele: “Não, agora eu vou, agora eu vou conseguir”. Aí ele foi lá, rezou pra Deus, fez o sinal da cruz nele, aí o rabino não, do lado dele. Ele fez o sinal da cruz no rabino e subiu no monociclo achando que ia ser ovacionado e aplaudido e ficou um silêncio sepulcral, a galera em desespero lá e esse palhaço, obviamente, nunca mais foi contratado.


Então o cara quando soube que eu era judeu, gostou muito de mim e começou a me dar todos os Domingos, festinha. Então todo Domingo eu ia nas festinhas da comunidade judaíca, e aí foi muito legal porque ele me pagava um pouco mais e às vezes eu fazia duas ou três festinhas no mesmo dia, então domingo era um dia cravado.


E eu comecei a perceber que ele não me chamava pras festinhas de Sábado, aí eu falei:


“Escuta Mosher, por que que de sábado você não me chama para as festinhas?”.


Ele falou:


“Olha. Você não é judeu?”.


Eu falei:


“Sou”.


“Então, judeu não pode trabalhar de sábado”.


“Não, eu sei. Mas eu não sou religioso. Minha família não é nada religiosa. Não tem nada a ver nem com a religião”.


Aí ele falou:


“NÃO. MAS EU SOU JUDEU. E um judeu não pode fazer outro judeu trabalhar de Sábado”.


Aí eu falei:


“Não. MAS EU QUERO”.


Ele falou:


“Não, não, não, não, não”.


Aí eu fiquei mal assim, eu fui embora e fiquei pensando, aí eu lembrei que pra quem é muito judeu o que importa é se a mãe é judia, se a mãe é judia o filho é judeu, senão eles não consideram. Eles são bem rigorosos, bem XIITAS. Então no outro dia eu falei:


“Então Mosher, eu tava pensando lá, a minha mãe ela não é judia”.


Minha mãe É judia, mas eu menti. Eu falei:


“Não! A minha mãe não é judia”.


Ele falou:


— “Ah não?”.


“Não a minha mãe é super católica, não tem nada a ver com o judaísmo”.


Aí ele falou:


“Ah é? Então tá, então eu posso te mandar fazer as festas”.


E aí ele começou a mandar. Então sábados eu fazia festas para pessoas de outras religiões e domingo era o dia das festas judaicas.


(música)


 


Um dia ele me liga:


“MÁRCIO, EU PRECISO URGENTE DE VOCÊ NESSE SÁBADO. VOCÊ TÁ LIVRE?”.


Eu falei:


“Não, eu não tô livre… Eu vou viajar com a turma do teatro”.


A gente ia fazer um festival de teatro numa cidade próxima. Ele falou:


“NÃO, NÃO, NÃO. EU PRECISO DE VOCÊ”.


Eu falei:


“Não dá Mosher!”.


Ele falou:


“NÃO. EU TE PAGO O DOBRO”


Eu falei:


“Opa! Se você me paga o dobro aí eu acho que eu posso pensar”.


“EU PRECISO DE VOCÊ AQUI. VEM PRA CÁ!”.TAL,TAL,TAL.


— “BELEZA.”


Eu fui lá, não sabia o que ele queria, sabia que ele gostava de mim porque modéstia a parte, da turminha dos animadores eu era o melhor. Mas o que que poderia ser tão importante pra ele me pagaria o dobro né? Ele que era um bom judeu, que era bem pão duro mesmo. Que ele me pagaria o dobro, precisava que tinha que ser eu. TINHA QUE SER EU. Bom, cheguei lá no dia, ele chegou e:


“ENTÃO MÁRCIO, É O SEGUINTE. HOJE O ANIVERSÁRIO É DON LA MAISON DE LA MINISTRE”.


Aí eu falei:


“DON O QUÊ?”.


“DON LA MAISON DE LA MINISTRE!”.


É na casa da Ministra.


Ele tinha vendido um aniversário na casa da Ministra. Da Ministra da França. E eu:


“NOSSA! NA-CASA-DA-MINISTRA?”.


E aí nesse momento eu gelei. Por quê? Porque eu já tava no meu terceiro ano em Paris e eu não tinha mais a documentação pra tá lá. E eu estava de certa maneira ilegal. Por quê? Porque os dois anos anteriores eu estava na escola, eu tinha os “papiers” (que eles chamam) mas esse ano eu já não tinha mais, só que eu não podia falar pra ele que eu não tinha por que eu fiquei com medo de ele não me chamar nunca mais. Mas também ao mesmo tempo eu não poderia chegar lá na casa da Ministra e não ter os papéis caso ela me perguntasse: “Mas você é estrangeiro? Você não tem os papéis?”. Que que eu ia falar pra mulher…


E aí ele me contou:


“É. A Ministra é do interior. Don Minique Vuane”.


Não só era Ministra, como era Ministra do interior que era responsável por toda essa coisa dos SON PAPPIER né? Que são as pessoas que não tem os papéis. Pessoas que vem de outros países e tentam se legalizar, naquela época essa era uma questão muito importante. Eles tavam mandando muita gente embora da França. E aí eu desesperei, eu não sabia se eu contava a verdade pra ele, ou se eu falava:


“Não, não. Eu preciso ir no dentista. Eu tenho aquela viagem. Eu não quero mais”.


Mas eu não tive a manha de dar pra trás e lá fui eu na casa da Ministra fazer a festa. COM MUITO MEDO. MAS MUITO MEDO. Enfim, ele me deu o endereço, eu fui pra lá de metrô. Quando eu chego lá, já bem perto do endereço que ele me deu, eu vejo que tem muitos soldados, tem o exército, tem muito policiamento. Falei: “Opa. Tá acontecendo alguma coisa por aqui”. Mas enfim… Segui andando, segui andando e muito exército, muito exército, muito exército, muita polícia.


E aí quando eu vejo o endereço, eu olho e era exatamente dentro do Ministério. ELA MORAVA DENTRO DO MINISTÉRIO DO INTERIOR. Então eu ia ter que entrar dentro do Ministério. Aí: “Ah meu Deus? Será que eu vou ter que ir embora daqui?”. Eu não conseguia nem respirar, eu não vou ficar aqui, eu vou ligar pro cara. Eu vou falar que eu tive uma morte súbita. Eu realmente fiquei desesperado. Mas enfim. Respirei fundo e lá fui eu. Já chegando perto, eu nem cheguei perto eu já fui abordado por um cara com uma arma:


— “Onde cê vai? Que que você tá fazendo aqui?”.


Eu tava com umas roupas coloridas, estranhas. Esse meu cabelinho, essas minhas trancinhas assim né? Que que esse moleque…que que esse? Né? Eles com medo do terrorismo (na Europa é uma coisa séria essa história), então o cara já me parou assim, já me deu uma geral. Falou:


— “Que que você tem aí?”.


Falei:


“Não tem nada, eu vou fazer uma festa de aniversário”.


“Mas onde você vai?”.


Falei:


“NÃO. Eu vou falar com a Ministra”.


E ele:


“Como assim você vai falar com a Ministra? Tá bom!”.


O cara me deu uma geral, ele me revistou de cima a baixo, ele me fez assim, realmente ele foi em todos os lugares que você pode imaginar. E ai na minha mala tinha uma galinha de plástico, tinha uns lenços coloridos, tinha um ovo de mentira, tinha um monte de coisa muito estranha. E o cara ficou muito desconfiado. Mas ele não achou nada e ele me acompanhou, metralhadora na mão, até a recepção do Ministério. Chegando lá a moça falou assim:


“Ah. Pois não?”.


Eu falei:


“Ahn, vim falar com a Ministra!”.


Ela falou:


“Como assim falar com a Ministra? Você precisa ter hora pra falar com ela, não é assim”.


Eu falei:


“Não, não, ela me chamou. Eu vou fazer a festa de aniversário da Jucilenne”.


“Ah tá. Peraí. Só um minuto”.


E aí começou um zum zum zum, mais gente chegou, mais polícia, o chefe da segurança. Foi todo um esquema lá e eu gelado, taquicardia, o coração batendo. Aí ela me pediu um documento, e eu dei meu passaporte, aí eu falei: “Agora ferrou”. Dei meu passaporte, ela olhou, verificou lá alguma coisa no computador dela não sei o quê. Ligou pra Ministra.


A Ministra deu OK e eu entrei…


YYESSSSSS


(música)


Eu entrei lá feliz da vida assim meio que “Ahnnn, SAI FORA AÍ SEU POLÍCIA”.


Fui lá, ela recebeu muito gentilmente, ela foi um amor. Me mostrou a casa dela, quer dizer, uma senhora casa, uma mademoiselle casa, eu fiz o aniversário da filha dela, ela ficou muito feliz, me agradeceu, me pagou um pouco a mais. E saí de lá tendo realizado uma festa de aniversário dentro do Ministério do Interior da França.


VOILÀ… FINAL.


Muito bem, muito bem, muito bem.


Chegamos ao final de mais um episódio do BallasCast (AAAAAAAHHHHH), mas na segunda-feira que vem tem mais (EEEEEEEHHHHHH).


Muitíssimo obrigado por você aguentar mais um episódio aqui ao meu lado, isto é, aqui ao seu lado.


Se você quiser fazer comentários, sugestões, observações, indagações, ou qualquer “ções” é só entra no grupo do Facebook do BallasCast, ou na minha página Facebook Márcio Ballas, ou enfim… Me contata por sinal de fumaça, pombo correio ou telepatia, que eu recebo.


E agora vamos ao nosso momento merchan


“Mas Márcio, eu queria fazer um curso de improviso mas eu não sei nada”.


É fácil, basta você ver na casadohumor.com.br onde nós damos curso de improviso, curso de palhaço, curso de stand up comedy para qualquer pessoa que não seja criança. Maiores de 16 anos podem vir. Tem cursos pra todo mundo.


AGRADEÇO VOCÊ DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO. Da minha ahorta. Do meu ventrículo (não confunda com ventríloquo ).


E SEMANA QUE VEM TEM MAIS…


THANK YOU…


MERCI BEAUCOUP…