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Ballascast – Episódio 43 – Preparar, Apontar, Improvisar!

EPISÓDIO 43 - PREPARAR, APONTAR, IMPROVISAR.


Senhoras e senhores, laaadies and geeeeeeeeeeentlemans, madames et messieurs, vagalumes e vagalumas, de Oliveira está começando mais um… 


BALLASCAST… 


MÚSICAAA. 


 Olá, olá, olá, seja soberbamente bem-vindo ao BallasCast, é sempre um prazer ter você, que sempre ouve a gente aqui. 


E é sempre um prazer ter você que nunca ouve a gente aqui, o que é um paradoxo, porque se você nunca está aqui, nunca foi um prazer… 


Mas agora vai ser… um prazer! 


No episódio de hoje eu vou falar um pouco do pré improviso, o que acontece antes da gente ir pra cena, o que acontece antes do espetáculo do improviso começar e você improvisar e jogar com o público ali, na hora, ao vivo e a cores…  


Então vamos ao episódio de hoje… NOW! 


(Música) 


 


PREPARAR, APONTAR, IMPROVISAR. 


(Música) 


Antes de começar a falar qualquer coisa sobre improviso, eu queria deixar bem claro que quando eu falo de improviso eu não estou falando de gambiarra, de fazer qualquer coisa, de dar um jeitinho… 


Não é nada disso! 


Pra gente improvisar a gente precisa saber muito, muito, muito do assunto sobre o qual estamos improvisando… 


No episódio de hoje eu vou falar sobre improviso teatral, então pra você improvisar no palco, pra você criar um espetáculo ali na hora, você precisa estudar muito o espetáculo… 


Precisa saber muito de improviso pra você se aventurar e fazer isso um dia, com um público presente, ao vivo, ali na hora… 


Semana passada eu tava conversando com o Ricardo Malerbi, super mágico, amigo meu, e ele estava pensando uma palestra de mágica que falava sobre preparação, e ele me falou: 


– Ballas, preparação na mágica é fundamental, a mágica tem que estar absolutamente preparada antes, então antes, as vezes, é quase mais importante do que o momento em que ela acontece… 


Eu achei aquilo muito interessante, muito impactante, eu nunca tinha pensado nisso né? 


E ele falou: 


– É diferente de vocês, porque vocês fazem tudo ali na hora né? 


E o meu primeiro impulso foi dizer “é”, mas na verdade não, a gente não faz tudo ali na hora. 


O improviso, ele também tem uma grande preparação… 


“Mas Ballas, como é que você se prepara para o improviso se é tudo improvisado, se é tudo feito ali…” 


A gente se prepara sim! 


Por isso que eu disse que o improviso não é fazer qualquer coisa, fazer de qualquer jeito, fazer qualquer negócio… Porque tem uma grande preparação pra gente conseguir apresentar um espetáculo que seja bacana, que tenha o mínimo que a pessoa veja e diga “Uau, isso é muito legal, isso é muito bacana”. 


No nosso caso eu dividiria a preparação em duas partes, a primeira parte ela é antes do dia do espetáculo… 


Na semana, nos meses, antes… isso é fora do dia do show. 


A gente costuma dizer que a gente não ensaia, a gente treina. Por quê? 


Porque normalmente no teatro, você ensaia uma obra que já está escrita, então você vai ensaiar a sua fala, o seu personagem e tal. 


A gente não. Como a gente não sabe o que vai fazer, a gente treina. Então a gente treina desde os fundamentos do improviso né? 


O grupo se conectar, o grupo aceitar, o grupo entender quais são os universos de cada um… 


Fazer uma comparação bífida com o futebol, é como se antes do dia do jogo, o jogador pode treinar passe, ele pode treinar cruzamento, ele vai conectar um grupo ali… mas no dia do jogo, é o dia do jogo, não dá pra saber o que vai acontecer, então não dá pra você prever tudo, não dá pra treinar tudo… por isso é um treino e não é um ensaio. 


Nesses dias, a gente se junta normalmente em sala de ensaio, e faz exercícios, faz jogos, experimenta, erra, erra muito, erra pra valer, erra com tudo né? 


O improviso ele tem essa coisa que o erro é parte do trabalho do improviso, então a gente tem que errar bastante em sala, pra quando a gente errar em cena, a gente está acostumado, a gente brincar, a gente lidar, e eventualmente, transformar esse momento de “erro”, num momento de grande acerto, num momento que vai ser um golaça, num momento em que o público “Nossa, ele conseguiu transformar aquele momento que tava indo embora, num momento golaço”… 


E isso o público dá valor, o público aplaude, o público gosta muito… 


E o segundo momento é o dia do show, o dia propriamente dito, o dia em que a gente chega no teatro e começa o aquecimento, uma preparação pra aquele evento que vai acontecer ali na hora… 


Pode parecer estranho, mas sim, a gente tem que se preparar. 


Não dá pra gente chegar no dia e opa, chego do carro, entro, e vai lá, entra e sai fazendo… 


NÃO! 


Até daria, mas provavelmente vai sair ruim, por isso é importante a gente ter essa preparação… 


Eu diria mais, é FUNDAMENTAL a gente ter essa preparação, pé diferente talvez do stand up, que o cara pode chegar… normalmente no stand up a galera chega muito perto do show. 


Cinco pras oito, o show é as oito, chega às vezes as oito em ponto… não… 


A gente chega muito antes né? 


Pra gente poder se preparar, pra gente poder se conectar e fazer um espetáculo digno do que o público pagou para ver. 


(Música) 


 Vou compartilhar com vocês como é que a gente fazia a preparação para o “Jogando no Quintal”, jogo de improvisação de palhaço, que é um espetáculo pioneiro de improviso, aqui no Brasil, começou a 15 anos atrás, no quintalzinho de uma casa – eu falei um episódio sobre isso lá atrás – veja no episódio “Jogando no Quintal”, como o próprio nome diz. 


A preparação do dia do “Jogando” é uma preparação que eu levo comigo até hoje porque ela é muito importante e realmente ela fazia com que o espetáculo acontecesse pra valer. 


Normalmente o espetáculo era as nove e a gente chegava as três horas da tarde. 


Então a gente fazia a arrumação dos detalhes finais, arrumava o cenário, arrumava as cadeiras, a gente arrumava tudo… na época não tinha a produção que arrumasse tudo pra gente, então de certa maneira isso já era uma preparação pro próprio espetáculo que ia acontecer… 


Então a gente arrumava tudo, todos os detalhes, fazia as caipirinhas que a gente servia ao público, que era a gente mesmo que fazia, pendurava as bandeirolas, colocava tudo bonitinho, deixava tudo impecável, deixava tudo prontinho pra o momento que o público fosse chegar e estar tudo impecável e bonito. 


Quando dava seis horas em ponto, a gente estava com a arrumação preparada e chegava realmente a preparação dos atores, então a gente sentava numa roda, no chão, todo mundo se olhava e a gente falava, normalmente eu ou o César, que éramos os diretores, alguma coisa… 


Um boas-vindas né? 


Todo mundo se olhava ali, alguém dizia alguma coisa, deixava alguma coisa na roda, que queria compartilhar, que aconteceu… alguma coisa interessante, alguém bacana que vai vir… 


Enfim, era um momento de abertura dos trabalhos assim, onde cada um podia falar alguma pequena coisa. Feita a introdução, a gente se colocava em duplas e a gente fazia uma seção de massagem, cada um fazia meia hora de seção de massagem no seu parceiro. 


Então massagem pra você o que? 


Pra você zerar a sua cabeça, pra você conectar com você, pra você conectar o corpo, então a gente deitava o corpo no chão e o parceiro vinha, apertava seu corpo de cima até baixo, esticava, estrangulava, amassava, então depois de meia hora você estava UUUOOOLLL… rejuvenescido… 


E acontecia a troca com o seu parceiro, então você fazia no seu parceiro, conectava com o seu parceiro e assim acabava a seção massagem. 


Cada dia o aquecimento acontecia de uma maneira. Se era eu que conduzia o aquecimento, a preparação, eu pedia pra todo mundo se esticar… entrar em contato consigo, esvaziar a cabeça, no chão, todo mundo deitado no chão, espreguiçando, espreguiçando, aos poucos íamos levantando, todo mundo médio, ficar de quatro, ficar com apoio, um apoio, dois apoios… ir subindo, subindo, aos poucos, todo mundo ia ficando de pé… aí a banda entrava, tinha uma banda que tocava ao vivo, a banda começa a tocar uma musiquinha, uma musiquinha, e a galera ia esticando, esticando, a banda ia aumentando a música, a galera começava a dançar, dançar, cada um por si, dançando, dançando, dançando loucamente… uma hora a banda para. 


STOP! 


Todo mundo para… todo mundo para… se olha, olha, olha e a banda continua, continua dançando, dançando, dançando, dançando… parou a banda, para todo mundo. 


Se olha, olha, olha para o outro… continua dançando, dançando, agora dois a dois. 


Olho no olho, dançando, stop, parou. 


Olhando no olho, isso, olho pro outro, olha pro público, olha pra banda, e a banda continua dançando… 


E agora vamos ocupar os espaços pra gente sair pelo teatro, a galera dançando pra lá, pra cá, em cima da arquibancada, lá em baixo, no cantinho, atrás da banda… e sempre que a banda para… PÁ, congela, olha pro outro, olha pro outro, olha pro outro… 


E a banda aumentando, aumentando, dançando loucamente, voltava pro centro do palco, todo mundo junto, a gente fazia uma grande roda, todo mundo se abraçava, a banda parava a música, voltava, todo mundo em roda, a banda vinha pra roda, a gente se olhava… 


“E agora nesse momento cada um vai dizer aqui na roda o que quer para o espetáculo de hoje” 


“Ah eu quero alegria” 


“Eu queria conexão” 


“Eu queria que a gente se divertisse” 


“Eu queria que a gente se olhasse mais durante a cena” 


“Eu queria que a gente fizesse um espetáculo do cacete” 


E aí cada um deixava o seu desejo pro dia de hoje, a gente se abraçava e ia pro camarim, estávamos prontos, plenos pra colocar o nosso nariz e receber o público pro espetáculo que ia começar. 


Teve até um amigo da Vera Budi que veio assistir o espetáculo, ele chegou mais cedo, ele viu todo o aquecimento e depois ele viu o espetáculo, e quando acabou a Vera perguntou: 


– E aí o que você achou do espetáculo? Quais as suas impressões? 


E ele falou: 


– De qual espetáculo? Do aquecimento, ou do show? 


Ele realmente ficou impressionado porque o aquecimento era, eram mais de duas horas da gente ali loucos, pirando, pra gente entrar nesse estado pleno, nesse estado criativo, estado que você está pronto para o que vier, no que for acontecer ali no momento, presente 


(Música) 


 Quando a gente começou a trabalhar os jogos de improviso, conhecer novos jogos, pesquisar na internet, a gente começou a frequentar festivais latino-americanos, a gente via a galera fazendo jogos novos… “Nossa, a gente quer fazer esses jogos”, o que que acontece? 


Pra você levar um jogo ao palco, pra mostrar pro público esse jogo, a gente tem que estar entendido, a gente tem que ter mecânica, o que tem por trás do jogo. 


Então por isso, normalmente a gente se encontra uma, duas, três vezes na semana pra fazer esse treino, então por exemplo, a gente tem um jogo que se chama “Jogo do Quadrado”, que é um jogo difícil de fazer, porque são quatro histórias, um tema e um público vai assistindo o desenrolar dessas histórias… 


A primeira vez que eu vi eu falei “Nossa, esse jogo é muito difícil”, eu vi na Colômbia os caras fazendo, “não sei se a gente consegue fazer”. 


Então o que que a gente fez? Leva pra sala de ensaio, aí faz uma vez, faz outra vez, entende, faz mais uma vez, quem tá de fora dá feedback… 


E a gente vai treinando o jogo pra que? 


Pra quando o jogo está mais ou menos bom, quando a gente acha que ele é possível de ser mostrado ao público, aí a gente faz ele, ou então muitas vezes a gente inventa jogos, ou faz variações de jogos que já existem. 


Há muitos anos atrás, quando eu dava treinamento para os Barbixas, a gente tinha jogos de rima, que eu sempre gostei muito, e no “Jogo dos Estilos”, tinha um dos estilos que era o conto de fadas, e um dia eu propus pra eles “Por que é que a gente não junta, vamos fazer um conto de fadas rimado.” 


“UAU Ballas, será que a gente consegue? ” 


“Não sei, não sei se a gente consegue, mas a gente pode testar”. 


E aí a gente testou, fomos entendendo… 


“Puxa pode ter um narrador, pode ter uma musiquinha que dá tempo para o ator pensar, pode ter conflitos de contos de fadas”. 


“Como é que funciona? “ 


“Ah tem o bonzinho, tem o malvado, aí o bonzinho tá mal, aí o malvado, uma bruxa, faz uma bobagem com o outro, daí ele tem que no final se transformar e viveram felizes pra sempre.” 


“A gente tem uma estrutura no conto de fadas normalmente…”  


“Então a gente tem que pensar que sempre no início tem que ter isso, que tem que ter aquilo…”  


Então a gente vai pensando o jogo… 


Óbvio que a gente só sabe se ele dá certo ou não, quando tem público, porque essa é a graça do improviso, só acontece ali na hora, mas que que a gente fez? 


Fizemos alguns ensaios e provamos, aí deu muito certo, e aí virou um dos jogos que a gente fez. 


Outra aula de improvisação que eu tive foi com do Christian Mofar, ele é da Bélgica e ele foi fazer um curso de relacionaire, que é um curso específico do palhaço no hospital. 


Esse cara é um cara incrível, eu já falei sobre ele num episódio anterior que eu falei sobre palhaço em hospital, o curso era quatro módulos, durava um ano, então tinha toda uma preparação pra você começar o trabalho em hospital. 


E no dia do trabalho o que ele fazia era fazer a gente chegar duas horas antes, então ele pedia pro hospital uma sala, a gente tinha que ter uma sala especial pra gente… já quando a gente chegava na sala, tinha uma música tocando na sala, aí a gente se maquiava, não colocava ainda o nariz vermelho, se maquiava, colocava sua roupa, um ajudava as vezes o outro na maquiagem, um pequeno detalhe, dar uma arrumadinha na roupa e tal. 


Quando estávamos todos com as roupas prontas, figurinos prontos, ainda sem a máscara, sem o nariz vermelho, ele colocava todo mundo em roda, aí ele pedia pra gente fechar os olhos, “entra em contato com você, como é que você está nesse momento, nesse segundo, respira, sente seus pés, tornozelos, joelhos, quadril, sua coluna, barriga, coração, os braços, sua cabeça, conecta você… esvazia a mente”. 


Ele fazia uma meditação com a gente ali, que durava 10-15 minutos onde você realmente zerava tudo, depois ele fazia um aquecimento físico com a gente, e depois de 1 hora ele falava “Bom, agora é o momento de você colocar o nariz, colocar a menor máscara do mundo”. 


Então cada um ia para o seu cantinho, cada um tinha o seu pequeno ritual pra colocar o nariz de olhos fechados e BUM, aí você abria os olhos e aí começava o trabalho, quer dizer, tem toda uma preparação pra você chegar naquele momento de improvisar, de fazer a coisa acontecer… 


E ele dizia que 80% do resultado de um bom trabalho no hospital depende do aquecimento, depende da preparação… é claro que isso não dá pra ser medido em números né? Mas olha só… 80%, quer dizer, ele dá uma relevância gigantesca pra esse momento de preparação, esse momento de aquecimento, esse momento pré, antes do improviso começar e do improviso acontecer. 


ENFIM… 


IMPROVISAR É LEGAL, É BACANA, É DIVERTIDO, É INCRÍVEL, MAS DEMANDA MUITA PREPARAÇÃO… 


E VOCÊ, COMO É QUE VOCÊ SE PREPARA PARA SUAS APRESENTAÇÕES? 


E apresentação pode ser um monte de coisas, pode ser uma palestra, pode ser uma aula, pode ser um spet que você tem que dar pra investidores, pode ser um spet que você tem que dar em uma start up, pode ser uma fala que você tem que fazer para o seu time, ou pode ser qualquer coisa que tenha você, o público e algo que aconteça no aqui agora, no momento presente. 


Porque quanto mais aquecido, quanto mais preparado, quanto mais pronto você estiver, mais você vai poder improvisar, mais você vai poder jogar no que acontece, e assim viver um momento pleno, incrível e feliz. 


Fim do episódio. 


(Música) 


Muito bem, muito bem, muito bem, chegamos ao final de mais um episódio (AAAHHH) mas na segunda feira que vem tem mais (EEEHHH). 


E se você ainda não faz parte do BallasCast, entra lá no Facebook e se inscreve, é um grupo muito legal, onde eu coloco alguns conteúdos exclusivos, eu vou colocar esse conto de fadas rimado que eu citei hoje… 


Coloco algumas coisas que só o pessoalzinho de lá sabe, do grupinho, do grupinho, esse pessoalzinho bacana, maneiro, que acompanha, que gosta das coisas que eu faço e que eu falo. 


Lá inclusive, você pode sugerir temas, pessoas para serem entrevistadas, e ter o seu nome aparecendo aqui no BallasCast assim como Amaury Silva, que quando eu perguntei “O que você escreveria no túmulo?” 


Ele respondeu “Enfim, provou ser mortal” 


Ou a Claudia Barros que escreveu “Fui, agora já era”. 


Ou então o Henrique Soares Silva que escreveu “….blues clean” 


Ou então a Jaqueline Glimbat que escreveu “Um dia a gente se vê”. 


Thank you very much. 


Nwoihçivhg 


Wnohçwo4hg 


Feqgivehig 


Bye bye!