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BallasCast – Episódio 57 – Gabriella Argento – Cirque du Soleil (Parte 1)

EPISÓDIO 57 - GABRIELLA ARGENTO - CIRQUE DU SOLEIL (PARTE 1).


Senhoras e senhores, laaadies and geeeeeeeeeeentlemans, madames et messieurs, mamãos papayas e mamãos mamais, estás começando mais um…

BALLASCAST…

MÚÚÚSICAAA!


Olá, olá, olá, seja infinitéssimamente bem-vindo ao BallasCast. Pra você que está vindo pela primeira vez, very welcome to the first time, pra você que nos acompanha sabe que eu estou na fase de entrevistas, e hoje eu estou muito feliz, porque tem uma amiga minha de muitos, muitos, muitos anos.

Ela foi uma parceira minha nos Doutores da Alegria, ela foi minha parceira nos primórdios do Jogando no Quintal, lá no século passado. Ela é a primeira palhaça brasileira no Cirque Du Soleil.

Altíssimo nível, recebam hoje… GABRIELLA ARGEEENTOO!


– Oiiiii!

– EEEEEHHHHHHH!!!

– AAAAAAAAAHHHHHH!

– Você veio, depois de muitos anos…

– Sim, cá estou!

– Cá estou! Ela tá em temporada com o Cirque Du Soleil, o Cirque Du Soleil está agora em cartaz…

– Tá agora em cartaz em São Paulo, no teatro Villa Lobos.

– Com o espetáculo…

– Com o espetáculo Amaluna!

– Amaluna! Queria que você já me falasse, porque assim, a gente sabe o Cirque Du Soleil… Mas outro dia você estava me falando sobre a dimensão, que eu não tinha noção, tipo o primeiro espetáculo que você fez foi o KA , é isso?

– Foi o KA, o Amaluna é o terceiro espetáculo que eu faço com a companhia!

– O KA, me fala uns dados assim, que você lembra…

– O KA! O KA é realmente um espetáculo muito impressionante! O KA é o maior, mais caro e mais perigoso espetáculo da história do show business mundial!

– Uau!!!

– Talvez agora, o espetáculo foi criado em 2003 acho, talvez agora alguma coisa tenha passado, mas durante muitos anos, tipo 200 milhões de dólares pra criar o espetáculo.

– 200 milhões de dólares?

– É!

– É tipo um filme de Hollywood?

– Sim! Sim! A quantidade de coisas, o palco foi projetado pela NASA…

– NOSSA!

– São 5 palcos diferentes, um palco com um braço hidráulico, que move pra cima, pra baixo, um que entra e sai, três que sobem e desce. A coxia tinha 11 andares…

– 11 andares?

– 11 andares, sim!

– Nossa!

– 3 pra baixo e 9 os outros, pra cima!

– E tinha muita coisa de risco? Sempre tem, mas especialmente nesse…

– Nesse espetáculo sim, tanto que eu fui pra lá a única pergunta que eles me fizeram era se eu estava gorda ainda, eu falei que estava, tudo bem isso não era um problema, e se eu tinha medo de altura, e eu falei que não, no telefone… Porque eu não tenho mesmo…

– Sei…

– Mas aí você chega lá “Então tá bom! Você não tem medo de altura então você vai escalar uma parede flutuante, você vai ter que fazer treino de… Você vai ter que aprender a cair em air bag, pular em air bag, pular em rede…

– Air bag?

– Air bag! Eu fiz salto de 4 andares, salto livre no air bag…

– Uau!

– Porque você tem que aprender a cair, se acontecer alguma coisa durante o show, você cai no air bag, só que tem técnica pra cair no air bag né?

– Uau! E quem ensina isso é?

– Os técnicos! Tem gente especializada pra tudo né? O expertise deles é muito louco, eles tem um expertise de tudo.

– E você falou também que escalava uma parede flutuante, pra gente que não tá acostumado com paredes flutuantes assim, mas qual… Conta um pouquinho melhor assim, pro nosso ouvinte, o que é uma parede, o que que é isso?

– Difícil explicar sem imagem, imagina… É um braço hidráulico que sobe e desce, imagina um retângulo, nesse braço. E esse retângulo, ele move em sentido horário, sentido anti-horário, ele muda de ângulo, ele sobe, desce, ele é uma plataforma que move, é bem… É bem desafiador até, explicar isso aí…

– E você fazia o que nesse, no KA?

– Nesse espetáculo eu era a ama da personagem principal, como eu sou também no Amaluna, eu sou também uma ama, mas a diferença é que a outra era mais velha, era uma mais de atriz do que de palhaça, e eu fazia uma cena, que foi muito importante pra mim, porque eu sou palhaça, eu sou atriz de palco, eu sou palhaça, eu sou brasileira, a gente não tem acesso a essas técnicas, essas coisas, e eu fiz um número que eu subia 11 andares de elevador…

– 11?

– 11!

– De elevador?

– É!

– Tinha um elevador?

– Tinha um elevador dos artistas!

– Nossa!

– E aí eu era plugada num cabo, num set de cabo de aço, e eu fazia uma queda de 35 metros.

– De 35 metros de altura?

– Isso! 35 metros de altura!

– Uau! Tipo 11 andares?

– Tipo 11 andares!

– Tipo você num prédio de 11 andares?

– É, um pouco menos, mas é…

– Dá 3 metros por andar, mais ou menos, dá 33…

– Mas era alto!

– Caramba! Um prédio, você saltar de um prédio de… Pendurada por cabos…

– É! E eu fazia uma coreografia, porque o público via essa cena, como se fosse um afogamento, como se fosse a personagem caindo no fundo do mar…

– Ah….

– Era lindo! Então tinha uma tela que quando eu passava a mão, os meus movimentos a tela reagia e formava as bolhas, de acordo com os meus movimentos, era lindo demais. Era lindo demais!

– Nossa!

– Eu tenho o maior orgulho de ter feito essa cena! Mas era uma cena que uma atriz não está acostumada né?

– Ninguém tá acostumado! Minha turma assim, minha família, meus amigos, ninguém tá acostumado a pular do décimo andar, décimo primeiro andar…

– Não! Duas vezes por dia, cinco dias por semana né?

– 2x por dia, 5 dias por semana! Quantos shows por semana?

– São 10 shows por semana em geral, quando o espetáculo é residente, que é o caso do KA, que é um espetáculo que mora em Las Vegas, o teatro foi construído pra ele, ele nunca vai sair de lá.

– Ah, é um… O teatro… É tão grande, que foi construído pra ele?

– Exatamente! E tem os shows de turnê, que é o que eu trabalho agora, que são os shows da tenda, né? Eles são, eles tem naturezas diferentes, então os shows da tenda a gente faz 8 ou 10 por semana, dependendo do mercado.

– Caramba! Tá vendo, você acha que palhaço não trabalha? São 10 shows, são 40 shows por mês!

– Terça a Domingo, a gente só tem a segunda feira de folga,

– Só tem segunda pra morrer um pouco…

– Morrer um pouquinho, lavar uma roupa…

– Uma roupa básica…

– Comer, comprar uma comida…

– Comprar um brócolis…

– E acabou…

– Pronto, e terça feira já estar lá…

– Já tá na lida!

– E o período de ensaios, quanto tempo demora, depende do espetáculo, mas normalmente…

– De criação do espetáculo?

– É!

– Olha, da hora que ele vai, começa a ser criado na mesa, até quando ele estreia deve ser uns 2 anos…

– Uau!

– Isso também é muito legal, que a gente não sabe. 2 anos só pra levantar o espetáculo?

– É, os artistas são envolvidos nesse processo nos últimos 9 meses da criação…

– Sei…

– Quando eles já tem mesmo a base da coisa montada…

– E você a primeira palhaça brasileira do Soleil, é muito orgulho, muito orgulho! Muito orgulho! Você entrou como? Me lembra! Eu tava, eu tava, a gente fazia na época o Jogando no Quintal, era essa a época né? Ou Doutores?

– Não a audição foi antes! A audição foi antes!

– Antes?

– É que você chegou eu já tinha passado!

– Ah, é porque… Tá! Tem um detalhe que é legal você contar. Porque não é que você passou e foi trabalhar?

– NÃÃO! Na minha vida nada é fácil.

– Nada é fácil.

– Nunca é fácil! Eu consigo tudo que eu quero, mas leva um tempo.

– Leva um tempo! Conta da audição. Queria saber como é… As pessoas não sabem como é um teste, “Ai quero fazer o Cirque Du Soleil”, tá, como é que foi?

– A audição é super complexa, é super difícil, e foi em 1900 e minha vó de shortinho, acho que foi em 97… 97… 1997… Foi a primeira audição que o Cirque Du Soleil veio fazer no Brasil, presenciar…

– Legal!

– Então eles entraram em contato com o Circo Mínimo, com a Central do Circo…

– Sei, Picadeiro…

– É! E eles organizaram. Eu não sei como a Bete Dorgam, que era minha treinadora de palhaço na época.

– Grande mestra de palhaço!

– Grande mestra. Minha específica… Pra mim ela tem uma importância ímpar na vida.

– Legal!

– Ela descobriu esse teste e falou “Você vai fazer o teste”, eu falei “Bete, você tá louca”, eu tinha 22 anos…

– Eu tava fazendo palhaço sei lá, 3, 4 anos…

– Aham…

– “Não, você vai fazer o teste, você vai fazer o teste”… Que fazer teste pro Cirque Du Soleil, eu conhecia o Cirque Du Soleil das músicas, que a Quito punha na aula, eu conhecia de orelhada assim, mas eu sempre gostava muito do que eu ouvia e do que eu via… Porque eles tem uma questão de interdisciplinaridade, que é muito legal, que é colocar em cena teatro, dança, música…

– Tudo junto…

– Circo tudo junto, pra comunicar uma ideia, eu gosto disso. Aí a Bete me obrigou, eu não queria ir, eu fui…

– Você não queria?

– Eu não queria ir… Eu não queria ir de jeito nenhum, eu tava cagada… Mas fui… Ela me largou lá em Cotia, e aí a primeira leva de teste era só apresentar uma cena, e eu nem tinha cena…

– Uau!

– E todos os palhaços que estavam lá, eram os palhaços que eu ia…

– Assistia…

– Ver no teatro, ver no circo, as pessoas que eu admirava, que eu estavam aprendendo com, tipo assim, sabe, beginner total, e aí eu lá falando com a Carla Candiotto, com o Rodrigo Mateus, Fernandinho Sampaio…

– Sei…

– Domingos Montagner, Paolo Musatti, que pra mim já era uma deusa…

– Sei, Paulinha que já era palhaça…

– É, e eu lá falando “O que que eu tô fazendo aqui”, e todo mundo tinha cena, Paulinha fez cena com violino, Rodrigo Mateus fez cena no trapézio, o La Mínima fez cena do ballet, e eu não tinha cena, e eu fale “O que que eu vou faze cara”, e a Carla Candiotto “Rouba meu número da mágica, vamos lá fora que eu vou te ensinar a fazer o número da mágica”, e eu falei “Não, deixa, eu joguei pra Deus mesmo, agora eu vou só lá e vou falar pra eles que eu não tenho nada.”


(Música)


– Aí eu fui e falei em inglês… Eu falei “Oi, essa sou eu, essas aqui são as minhas roupinhas, esse aqui é o meu corpo, eu vou cantar, dançar, me mexer um pouco aí pra vocês verem o que eu faço” e aí a mulher falou “Tá bom!”, com aquela falta de paciência né?

– Aquela cara de tipo… Puta, passa o mundo inteiro….

– Exatamente.

– Bem essa aí!

– Aí ela falou “Tá bom, cadê a sua música?” e eu falei “Que música”, eu nunca vou esquecer, ela tirou o óculos, pôs na mesa e falou “Você não trouxe nenhum CD pra sua audição?”

– Nossa… Que vergonha!

– Eu falei “Não trouxe porque eu danço qualquer coisa, qualquer coisa que você colocar eu danço”

– Uau!

– Eu acho até hoje que eu passei por causa disso…

– Sem dúvida…

– Ela falou “Meu nunca vi isso…”

– Nunca vi tamanha cara de pau.

– E aí você cantou…

– Aí eu cantei, que na época eu tava com um treino de canto muito bom, eu cantei uma música…

– Qual música era? Você lembra qual era?

– Era uma música de peça de teatro que eu vi… Passa tempo em boa companhia… Mas eu cantei tipo… PASSA TEMPO EM… Tipo, mega, mega colocada, mega… Quem que tava comigo? O Denis estava esperando lá fora, ele falou que dava pra ouvir da estrada eu cantando, aí eu cantei, aí eu dancei, eu não lembro o que eu dancei… Mas o meu combo sempre foi a estrela e o espacate, então eu danço, eu me movo muito bem, movia até… Mas me movo ainda, sou do teatro físico…

– Você é boa de físico…

– É, e aí eu no final, com o corpo enorme que eu tenho eu dei estrela, abri um espacate, aí eu passei nessa fase na cena…

– Uau!

– Das cenas…

– Tinham muitas pessoas já na primeira audição, já tinha uma galera…

– Então na primeira passada tinha umas 200, aí dessas 200 eles já nem viram metade assim, já caiu…

– Sei…

– Aí eles ficaram com pouquinho… Eu lembro que teve, agora tá um pouquinho confuso na minha cabeça, mas teve um momento e aí depois passou uns dias e teve a sequência, que eram três dias de integração…

– Três dias de testes? Uau!

– É. Das 9 da manhã às 11 da noite assim…

– Uau!

– Aí você ia fazendo exercício, integração, teste físico, e cada momento que tinha caía mais gente… Caía gente…

– 200, aí abaixou pra 100, 50…

– Ia cortando, cortando, cortando… E eu lá “Mano, eu tô ficando, não tô acreditando que eu tô ficando, vamos lá”.

– Sim!

– Vamos indo né? Aí no final eles chamaram meu número, bem no final… Tava eu, o Domingos, a Paulinha, uns meninos de kung fu, tinha pouca gente assim, tinha umas 8 pessoas, e aí eles chamaram meu número, só que eles estavam chamando o número de todo mundo que tava indo embora, então quando eles chamaram meu número eu peguei minha mala e fui embora… E eu tava saindo e eles falaram “Onde você vai? Você passou!”

– Nossa! Você tava indo embora…

– Eu tava indo embora, chamaram meu número, deu sorte até aqui né? Então tudo bem… Aí eles me perguntaram se eu tinha passaporte, se eu sabia nadar, porque na época eles estavam criando o O.

– O O, espetáculo O… Legal…

– E eu falei “Eu sou filha de surfista, eu sei nadar, sei mergulhar, sei surfar sei tudo e tal”, “Ai que bom, então faz o seu passaporte, e tudo, tal”, fizeram um puta fuzuê… SETE ANOS!

– Sete anos?

– SETE ANOS SE PASSARAM…

– E ninguém nunca voltou a falar com você?

– E ninguém nunca voltou a falar comigo e eu também nunca procurei, nunca mandei material… Fiz um teste, passei… Me chama se quiser, né? E segui minha vida, tranquila aqui no Brasil, continuei trabalhando no grupo de ópera, que eu trabalhava na época com pesquisa de ópera, montando o Chá de Alice com a Bete… Aí em 2004 eu estava passando por um momento pessoal super delicado, eu estava me separando de uma relação super importante…

– Sei…

– Estava deprimida. Jogada. Mal. Mal. Mal.

– Trapo humano.

– Trapo humano assim… Trapo humano… E aí toca o telefone, eu acho que foi o Ale Yungerman que me ligou, que era um ex aluno, né? E falou assim “Gabi, você tá vendo o que tá acontecendo?”

Eu falei “O que?”

“Não você não tem internet?”

“Não, meu namorado levou o computador, não tem como ver nada”.

– Nossa, sem internet…

– “Meu, tem um anúncio rolando em todas as escolas de teatro, todas as escolas de circo. Cirque Du Soleil procura Gabriella Argento”.

– MENTIRA!

– Juro! Se alguém tem o contato dessa atriz por favor entrar em contato!

– Mentira! Uau! Os caras colocaram anúncio pra te achar porque não estavam te achando!

– Não, porque eu nunca mais procurei, nunca mais mandei atualização de endereço nada, mas eles me acharam, porque eles precisavam de uma pessoa exatamente com meu perfil pro KA.

– E aí que você entrou no primeiro espetáculo.

– Aí eu entrei no primeiro espetáculo, aí eu nem perguntei quanto eu ia ganhar, eu tava tão louca que eu falei “Vou fugir com o circo mesmo, entendeu”. Vamos embora! Pula? Pulo! Tá gorda? Tô! Vamos aí! Vamos fazer o que precisa fazer.


(Música)


– E a gente vai terminar falando juntos tá, o podcast tá?

– Ok

– Você fala um pouquinho, eu falo um pouquinho…

– Tá…

– A gente vai experimentar falar juntos tá? Mas uma hora você pode pegar também…

– Tá…

– ESTAMOS CHEGANDO AO FINAL DESSE EPISÓDIO MARAVILHOSO, QUE TEVE AQUI DESTE LADO, A GABRIELLA ARGENTO, O MARCIO BALLAS, E VOCÊ QUE está, esteve, ouvindo, QUE ESTÁ CONOSCO, NOS ACOMPANHANDO, firme, forte, MUITO OBRIGADO, E AGORA A GABIELLA VAI CANTAR, UMA MÚSICA DE DESPEDIDA… THREE, TWO, ONE… GO!


(Música)


– Mais?

– Ahhhhhhh! VOCÊ AINDA TÁ falando JUNTO! ESPERTINHO! UMA MÚSICA MAIS POPULAR ENTÃO? PRA VOCÊ CANTAR JUNTO? NÃÃÃÃO! MUITO OBRIGADO! TCHAU! AHHHH CORAÇÃOZINHO!

– GABRIELLA ARGENTO SENHORAS E SENHORES…

Obrigada Marcio! Obrigada!