a
a

BallasCast – Episódio 81 – Palhaço, Jesus Jara

EPISÓDIO 81 - PALHAÇO, JESUS JARA.


Senhoras e senhores, ladies and geeeeeentlemans, madames et messieurs, ignorantes e ignorantas, está começando mais um…


BALLASCAST!


MÚÚÚSICAAA!


Olá, olá, olá, seja poética-aleatoriamente bem-vindo ao BallasCast. Para você que ouve o BallasCast semanalmente, todas as segundas, sabe que… Como eu sou palhaço, eu sou improvisador, eu falo muito desse assunto do palco, e hoje eu vou trazer o assunto do palhaço.


Para quem for de São Paulo, dias 18 e 19 vai rolar um curso da Gabriella Argento, que é do Cirque Du Soleil, que já foi entrevistada aqui nesse podcast.


Então se você está ouvindo em agosto de 2018 saiba que tem um curso muito legal rolando, de iniciação à linguagem do clown, a linguagem do palhaço.


E é exatamente sobre isso que eu quero falar, muitas perguntas me perguntam sobre técnica, sobre princípios, e hoje eu resolvi falar um pouquinho mais sobre isso.


Para quem não ouviu, tem dois episódios que já falam sobre ele, mas hoje eu vou me basear num livro que já existe.


Nosso episódio começa… NOW!


 


Palhaço, do Livro do Jesus Jara.


(Música)


Muito bem, hoje eu quero falar sobre um livro que eu comprei em Madrid que eu achei incrível, há muitos anos atrás e eu não sabia quem era esse cara, não o conhecia e o nome dele é Jesus Jara. E de saída o que me chamou atenção foi o título do livro dele que é “El clown, un navegante de las emociones“. Que obviamente quer dizer, o clown, o palhaço, um navegante das emoções.


O que eu já gostei de saída é que assim, a maneira que eu trabalho o clown, existem várias maneiras de você trabalhar o palhaço, trabalhar essa linguagem, mas a maneira que eu gosto e que eu trabalho, que eu ensino nos meus cursos na Casa do Humor, é do clown que não precisa ser engraçado o tempo todo, muito pelo contrário, o clown, como o próprio Jesus diz, ele tem que ser um navegante das emoções.


Um bom palhaço é aquele que você uma hora ri, uma hora se emociona, uma hora você se surpreende, uma hora você, nossa, leva um susto, uma hora você ri de um jeito, ri de outro… Para mim, esse é o clown incrível, é aquele que navega  por várias emoções em vários momentos, porque o palhaço nada mais é do que um espelho do homem.


O palhaço é o espelho do homem!


E nós somos um monte de coisas ao mesmo tempo, por isso que o palhaço não é uma só coisa, ele é um monte de coisa, por isso ele navega em todas as emoções.


Outra coisa importante de falar de saída, é que assim, o trabalho do palhaço, ele é um trabalho teatral, ele é um trabalho que quem exerce ele como ofício, faz ele profissionalmente, mas muitas pessoas buscam o clown para se inspirarem, para se descobrirem, para criarem, né? Já que é um trabalho absolutamente criativo.


Então ele não se restringe apenas a pessoas que querem ser palhaços profissionais… Esse curso que vai ter na Casa do Humor, por exemplo, é um curso aberto para qualquer pessoa, para iniciantes, quer dizer, para qualquer pessoa que nunca tenha feito nada. E é um barato! As pessoas saem muito tocadas, muito mexidas e por ultimo, o que eu acho que é mais bacana e que vale para todo mundo, é que o palhaço, mais do que uma linguagem, mais do que uma técnica é uma maneira de ver o mundo, é o que eu chamo do olhar do SIM, ele tem esse olhar para a vida, olhar para o mundo.


Então acho que você vai perceber que como ele descreve, como ele trás a abordagem do clown, tem a ver com a nossa vida, tem a ver conosco, tem a ver como nós poderíamos, e acho eu, deveríamos ser na nossa vida, no nosso dia a dia, no nosso universo.


Como o livro é muito grande tem muita informação, eu escolhi um capítulo para falar para vocês e para comentar alguns aspectos e alguns olhares e algumas visões minhas sobre o assunto.


(Música)


“La poética del clown”


Ah, olha o titulo já que bonito! Vamos lá!


Ele começou enunciando sus grandes verdades, as suas grandes verdades…


El clown es y siempre debe ser auténtico! O palhaço deve ser sempre autêntico!


Esse tipo de trabalho que a gente faz do palhaço, é um trabalho que busca você ser você mesmo.


“Mas Ballas, como assim ser você mesmo?”


Ééééééé! Mas do que ser uma personagem, as vezes as pessoas até confundem, acham que o palhaço é um personagem, tipo um personagem do teatro que eu tenho que compor, não! Muito pelo contrário! Ele é exatamente o contrário! O palhaço é você mesmo!


E isso que é muito difícil pra gente, porque a gente na vida está com várias máscaras. As nossas máscaras do dia a dia, as nossas máscaras do trabalho, do cotidiano e o trabalho do palhaço é você tirar essas máscaras e então ser autêntico.


El clown es sincero y espontáneo!


Bom, essa eu não vou traduzir, né? Tem coisa que não precisa traduzir. Sincero e espontâneo! Como as crianças… Como a gente deveria ser, mas não é… Então é um trabalho de sinceridade, de você ser espontâneo e trabalhar o tempo todo nessa espontaneidade.


El clown es transparente! Sus intenciones se ven incluso cuando intenta engañar!


Olha que interessante… O clown é transparente! E as suas intenções se veem mesmo quando ele tenta enganar, quer dizer, ele está totalmente ali aberto, ele está totalmente vulnerável, ele está se mostrando o tempo todo, pleno! Então o público consegue ver realmente e perceber quem é essa pessoa na sua mais profunda verdade, e perceber como ela é mesmo, de verdade, pra valer.


 


Sus emociones! Dentre todas las emociones que habitan el clown, una es imprescindible, la ternura!


Dentro das emoções que habitam o clown, a que ele acha imprescindível é a ternura. E ele segue…


En un histórico emocional de un clown, ese puede pasar de un estado a otro con la misma rapidez que lo siente dentro de sí!


Olha que interessante!


No registro emocional de um clown, ele pode passar de um estado a outro com a mesma velocidade, com a mesma rapidez que ele sinta dentro dele, quer dizer, ele pode estar muito feliz num momento, muito, muito, muito, e de repente ele fica muito nervoso, algo irrita ele muito profundamente, muito rapidamente, como as crianças, né? Como qualquer criança que está brincando daí acontece uma coisa ela, ela pode fica possessa, e de repente você mostra um sorvete e ela tá… “Ah eu tô chateadaaannn… Ah, sorvete… Éééé…”


Né? Ela é tão sincera, que ela não filtra, ela não julga, ela vai da emoção que tiver à outra emoção que ela sentir, porque ela está no momento presente, no aqui agora, o palhaço ele vive no aqui agora, no momento presente, no instante…


Su relación con el exterior/Sua relação com o exterior.


El clown es un curioso del mundo que le rodea/ O palhaço é um curioso no mundo que lhe rodeia!


Ele é um curioso o tempo todo, ele está com esse olhar de primeira vez, que a gente chama, como a criança… Ela olha para as coisas como se não conhecesse, porque ela não conhece… A gente quando trabalha o palhaço, a gente… Esse exercício de você começar olhar para as coisas de uma maneira diferente.


Como se fosse a primeira vez, eu “reolho”, se é que existe essa palavra, não deve existir, mas não tem importância, é olhar de novo.


Porque se você pega, por exemplo, se você dá um papel higiênico ao palhaço, ele pode olhar isso de vários ângulos. Ele pode fazer disso um binóculo, ele pode fazer disso um chapéu, ele pode rasgar pedaços e fazer neve, ele vai olhar de várias maneiras assim… Então é muito importante que ele tenha essa curiosidade a flor da pele.


El clown no busca problemas, él los encuentra constantemente!/O clown não busca problemas, ele os encontra constantemente!


Ele está tão fazendo a coisa, ele está tão compenetrado naquilo, que fatalmente, ele vai estar improvisando, vai estar jogando, vai estar jogando com o público, jogando com o parceiro, que vão acontecer problemas e esses problemas para eles são grandes presentes… Isso é uma grande lição que eu aprendi do palhaço, que é assim, um problema pode ser um grande presente.


We have a problem! YYYEEESSS! That’s good!


Temos um problema! Isso é bom! Porque vai ser uma ótima chance da gente fazer algo desse problema, se a resolução vai ser incrível, se a resolução for horrível a gente vai brincar com isso, então ele trabalha muito com os problemas e joga muito com isso.


Sus dualidades! El clown condensa en sí mismo a Don Quijote y Sancho Panza, es idealista y pragmático, soñador y realista.


Bom, está dito isso aí… Ele tem, Dom Quixote e Sancho Pança ao mesmo tempo, ele pode ser duas coisas ao mesmo tempo, né? E ele segue…


El clown puede ser frágil o duro, fuerte o débil, todo depende de su estado, sus motivaciones y su soledad o compañía.


Quer dizer, o palhaço pode ser frágil ou duro, forte ou fraco, tudo vai depender do estado que ele está lá naquele momento presente, da motivação que ele tiver, do seu parceiro ali, porque o clown, ele está sempre em relação, então dependendo do parceiro que ele tiver, ele vai estar de um jeito. Dependendo do que estiver acontecendo naquele momento, ele vai ser de um jeito. Então ele pode ser fraco, forte, tudo ao mesmo tempo, tudo variando de segundo a segundo, de acordo com o que lhe acontece


(Música)


Su lado escuro.


Ah essa é mais complicada.


El clown puede conducirse de manera cruel, siempre y cuando se produce con efecto distanciador de crueldad para quien mira. Incosciencia a quien mira, exageración al imaginario, exentricidad en la forma de realizarlo.


Esse é mais complicado, se quiser você volta aí no seu podcast e ouve de novo, mas vou traduzir…


O clown ele pode ser cruel, desde que, isso tenha um efeito distanciador essa crueldade para aquele que está mirando, para aquele que está olhando… O público, então ele pode ser cruel, mas ele tem que ter uma distância em relação a isso.


Porque para a gente não achar que isso e verdadeiro real, e para a gente não ficar mal com isso. Mas eventualmente ele pode falar uma grande verdade, ele pode trazer uma coisa que está todo mundo com vergonha de dizer, mas desde que ele esteja amparado por aquilo que a gente viu lá atrás, pela ternura, pelo carinho. Quando a gente sente que aquilo tem uma maneira sutil de se fazer.


E finalizando…


En la manera de comportarse de clown no hay tonteria. Todo lo que hace tiene una justificación, eso convierte cualquiera de sus actos, las cosas más abusadas, en normales.


Olha que interessante.


Na maneira de comportar-se, o palhaço não tem tonteria, não tem bobeira, ele não é um cara que faz qualquer coisa… As vezes eu vejo alguns palhaços novos achando que é fazer qualquer negócio, qualquer porcaria… Não, não, não é nada disso! Tudo o que ele faz está absolutamente justificado, então isso faz com que qualquer coisa que ele faça, mesmo que seja muito absurda, vire normal.


Então se ele está ali brincando com uma peninha que ele achou ali no meio do palco jogado, ele começa a soprar, ele começa a pirar com aquilo, se ele está ali de verdade, pra valer, se ele está jogando com aquilo, aquilo existe de uma maneira bacana, inteligente, divertida, não é qualquer coisa, não… Aquilo é muito importante para ele e consequentemente o público gosta daquilo porque vê que aquilo é importante pra ele.


El clown siempre encuentra solución para cualquier problema, aún que esta es una solución clown … Eso es impensable para cualquier otra persona, pero satisfactoria para él y coherente con su forma de ser!


Quer dizer, o clown ele sempre encontra uma solução para qualquer problema, mesmo que seja uma solução clown, mas ele acha uma solução para qualquer tipo de problema, ele dá um jeito de tentar resolver aquele problema, ele vai com tudo para fazer aquele problema ser resolvido do jeito que ele for possível, mas ele vai, ele afirma, ele tenta, ele tenta de um jeito, ele tenta de outro jeito, ele tenta de outra maneira, ele afirma e faz a coisa acontecer e o público gosta muito.


E aí tem duas possibilidades que acontecem…


Primeira, ele consegue uma solução incrível, ele tenta uma solução mega ousada. Caiu o chapéu dele sem querer no chão, sem querer mesmo, de verdade… Opa, caiu no chão… Ele não vai lá abaixa e pega, não… Ele tem um problema, ele brinca com aquilo, “Opa, temos um problema”, aí vamos supor… Ele põe o pé por baixo, joga o chapéu pra cima e o chapéu cai na cabeça dele, e o público fala “Nossa, caceta, incrível, incrível, incrível”.


Segunda possibilidade, mesma história… Ele pega se prepara, põe o pé embaixo, respira, faz contagem regressiva, depois joga pra cima… E o chapéu não cai na cabeça dele, ele vai jogar com isso, ele assume o que a gente chama de flop, fracasso, mas o público gosta… Porque? Em primeiro lugar porque ele tentou, porque ele foi com tudo, porque o público viu que ele tentou fazer uma coisa que era muito difícil, então nós damos muito valor as tentativas, a pessoa fazendo o máximo dela, e segundo, a gente gosta de ver o erro também, quando a pessoa ri dele, quando a pessoa aceita, quando a pessoa joga com isso… Inclusive muitas vezes, é aí que está o turning point muitas vezes, é aí que esta a virada e a beleza do palhaço, o momento errado vai ser mais legal ainda do que o momento que foi certo, porque ele soube jogar com o momento presente.


Para encerrar eu vou pegar uma frase que ele fala em outro capítulo, mas que eu gosto muito que é central, que eu acho que ela define o que é o clown, o que é o trabalho do palhaço, o que diferencia por exemplo, da improvisação, que é a seguinte.


Si un clown no nos mira, no existe!


Espíritos existem? Não! Não é nada disso… Vou de novo!


Si un clown no nos mira, no existe!


Eu falei duas vezes em espanhol e vou falar também em português…


Se um palhaço não nos olha, ele não existe!


Uma das características principais, fundamentais do palhaço é se olhar para o público, ele olha para o público, olho no olho mesmo, de verdade, para valer… Ele está o tempo todo submetendo o que ele faz ao público, mostrando ao público, compartilhando com o público, convertendo o público em seu público cativo, conquistando aquelas pessoas segundo a segundo, e isso é muito bacana e acho que isso vale para a nossa vida, né? Como é que a gente consegue levar esse olhar para a nossa vida, para o nosso dia a dia, olhar no olho mesmo, olhar para valer, olhar para as pessoas e ser cumplice delas, olhar sem julgamento, olhar sem filtro, olhar para o outro não só pedindo uma aprovação, mas mostrando que estou junto com ele, olhar para o outro com essa escuta ativa mostrando que eu estou ouvindo ele, olhar para o outro e perceber o outro de verdade, no aqui agora, no momento presente, essa é uma das belezas, um dos princípios, uma das máximas, uma das pérolas do clown, el navegante de las emociones.


Fim do episódio!


(Música)


Muito bem, muito bem, muito bem, chegamos ao final de mais um episódio (AAAHHH), mas na segunda feira que vem tem mais (EEEHHH).


E se você quiser entrar no grupo do BallasCast, que é o nosso grupo do Facebook, entra lá. Eu vou deixar uma foto do livro do Jesus Jara, eu vou deixar a capa do livro, eu vou deixar o link do site dele para você conhecer mais esse cara que é muito bacana, tem um trabalho muito legal e tem muita coisa que você pode investigar mais a fundo, sozinho, solitariamente, you and you, just for you…


So… Thank you very much


Kirngksmdkjirjiprjgip


Wjperiuewpir


Wekjpowksdnvmnblkkfh


Sjgprjgpiejoçfndknvlkhfg


Sndvçkshgpiwuwens


Bye bye!