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BallasCast – Episódio 91 – Improviso não é Stand Up

EPISÓDIO 91 - IMPROVISO NÃO É STAND UP.


Senhoras e senhores, ladies and geeeentlemaaaans, madames et messieurs, humoristas e humoristos, está começando mais um…


BALLASCAAST…


MÚÚÚSICAAA!


Olá, olá, olá, seja galhofeiramente bem-vindo ao BallasCast, se você está chegando pela primeira vez, welcome to the first time, é um prazer tê-lo aqui no BallasCast. E para você que me ouve semanalmente, todas as segundas feiras, welcome again-and-again-and-again, obrigado por ouvir de novo a nós, a eu e a vós!


Vamos agora ao episódio de hoje, eu vou falar sobre um assunto de comédia hoje. É uma dúvida, é uma coisa que as pessoas confundem muito, vem falar muito fazendo essa confusão, então eu vou fazer um  podcast falando sobre esse assunto.


E o nosso episódio começa N-O-W!


 


IMPROVISO NÃO É STAND UP!


(Música)


Eu quero compartilhar hoje com vocês, uma questão que sempre as pessoas vêm perguntar e vêm conversar comigo. É muito comum as pessoas confundirem o improviso com stand up. Muitas vezes jornalistas, ou pessoas que me encontram na rua, outro dia eu dei uma entrevista e a jornalista falou assim “Ai Ballas, você que é um dos precursores do stand up nacional”, “Não, não, não… Eu não sou! Adoraria ser, mas eu não sou, né? Eu faço improviso”, “Ah então, esse negócio do stand up de improviso, improviso de stand up”, “Não, não, não”, e aí eu tive que parar a entrevista para explicar para ela um pouco a diferença para ela poder fazer a entrevista legal e não falar sem querer uma bobeira no ar, né?


Uma coisa que aconteceu aqui no Brasil é que houve o fenômeno do stand up. Stand up é um tipo de comédia, uma maneira de fazer comédia, uma forma, um dos formatos de fazer comédia.


Então a comédia stand up de dez anos pra cá, mais ou menos, vou chutar assim as datas… Começou a crescer, e começou a se difundir cada vez mais, principalmente com a galera com CQC, que era uma turma… Que era a primeira turma do stand up que começou a ir para a televisão, o fenômeno de televisão fez com que as pessoas conhecessem mais eles, os shows começaram a se encher e as pessoas começaram a conhecer mais a comédia de stand up, ou o stand up comedy, ou o stand up, como a gente fala aqui no Brasil.


Então por conta dessa onda, meio que tudo virou stand up. Então o cara, eu brinco, né? O cara vê alguém caindo na rua, “você viu o stand up dele, ele na rua? Ah stand up”, qualquer coisa virou stand up.


Então eu queria explicar para você que está ouvindo, a diferença entre essas duas linguagens.


(Música)


Para explicar a diferença dos dois, eu costumo fazer uma analogia. Que é a seguinte…


O improviso e o stand up, as pessoas confundem porque é um pouco como uma laranja e uma  maçaneta. É… É isso mesmo que você ouviu. Maçaneta e uma laranja… Quer dizer, eles não tem nada a ver um com o outro, mas NADA, NADA!


As pessoas acham que é parecido, acha que é um pouco a mesma coisa, mas não. A verdade é que não tem nada a ver, antigamente até a minha analogia era uma laranja e uma mexerica, porque elas fazem, são comédias, são parecidas, mas cada uma é um fruto diferente. Mas pensando bem, eles são muitos diferentes… E eu vou explicar para você porque!


O stand up, a comédia stand up, ela tem alguns princípios, que são o seguinte… O comediante quando vai ao palco, ele vai falar histórias, piadas, situações que são pessoais, da vida dele, que ele observa, que ele viveu… Então é um pensamento que um humorista faz sobre um assunto que é a sua vida. E ele escreve esse texto, então ele é um roteirista, ele escreve as piadas, um dos princípios do stand up é que o texto é autoral. O comediante de stand up, ele nunca vai falar uma piada popular, uma história que não é dele, ou ele ouviu um texto de alguém e vai falar, não! Ele vai falar observações dele sobre a vida, o olhar dele sobre a vida, “Puxa, ontem eu estava viajando de avião e eu percebi que avião tal, tal, tal”, um olhar humorado, contar uma piada, mas não é contar uma piada… É falar um texto, um roteiro que ele escreveu, então é uma arte muito difícil da escrita mesmo, em primeiro lugar, e em segundo lugar do palco, de você colocar aquela ideia que você escreveu para a plateia ali, no momento presente, no aqui agora.


Eu pessoalmente gosto muito desse tipo de comédia e não é o tipo de coisa que eu sei fazer, não é da minha expertise, muito de longe. Os caras escrevem texto e eu falo “Nossa”, eu sou muito fã de gente que sabe escrever piada mesmo, fazer uma boa piada acontecer, escrita, né? Outra coisa que é do princípio do stand up, é que o comediante, ele está de cara limpa, a gente chama. É ele mesmo! Com a roupa que ele veio, não tem maquiagem, não tem figurino, não tem luz, é ele, né? O banquinho, ele, a água dele, o microfone e ele falando coisas e situações da vida dele que ele escreveu.


Vou citar alguns comediantes para você visualizar alguns que você já deve ter visto.


A galera que era do CQC, Oscar Filho, Danilo Gentili, Rafinha Bastos... Alguns comediantes das antigas, como o Diogo Portugal, o Caruso, no Rio de Janeiro, o Marcelo Mansfield, o Bruno Motta, Léo Lins, todo o pessoal do Comédia em Pé, aquele pessoal do Comédia Ao Vivo, toda a turminha que começou a contar as suas histórias no palco. A galera nova, os stand upers novos que eu adoro, Thiago Ventura, Nando Viana, Renato Albani, Murilo Couto… Enfim, tem uma galera nova muito bacana fazendo, então para finalizar o conceito do stand up, a gente tem que entender o que? Que ele conta as histórias dele, ali, fingindo, tentando fazer com que o público ache, que ele está apenas pensando, devaneando, falando coisas que ele viveu ontem, hoje, mas a verdade é que aquilo tudo é um roteiro, está tudo absolutamente escrito, o comediante do stand up, ele escreve cada palavra, ele escolhe como ele vai contar aquela história.


O princípio de stand up é baseado em um conceito que eles chamam de setup punchline, eles chamam assim nos Estados Unidos, e aqui também os comediantes falam nessa linguagem.


O que é setup? Setup é a preparação da piada, e a punchline é o arremate, é quando vai ser o “HAHAHAHA”, é quando vai dar o clique, é quando vai dar o twist, quando vai dar a virada, é quando ele vai contar ou surpreender o público, ou trazer um olhar que não tinha visto, né? E aí vai fazer a graça,  então quando ele faz a punchline, né? A linha do punch, a palavra do punch, a frase do punch, aí o público vai rir se o punchline for bom, por exemplo, eu vou dar um exemplo qualquer assim, sem pensar muito, ontem eu estava lendo um livro sobre a história da vida do Einstein, e ele conta que quando ele casou com a segunda mulher dele, sabe o que ela falou quando viu ele nu “Nossa, que físico”, “HAHAHAHAH”, aí o público vê, acha engraçado, talvez você aí não achou graça, não tem problema, não é para ser engraçado é só para dar o exemplo. Então o que que é o setup? É a preparação da piada!


“Você sabe o que que a mulher do Einstein disse quando viu ele nu?”


Aí isso é setup! Aí o público “Não”, fica no silêncio… E ele fala “Nossa, que físico”, é a punchline, é a piada em si… E aí o público “HAHAHA”, ou nesse caso faz aquela piada que “Ai meu Deus do céu”, mas essa é a chamada punchline. Enfim, esse roteiro que o comediante de stand up prepara, ele está todo armado, ele está todo escrito, ele está, um bom stand uper ele escolhe cada palavra que ele vai usar para contar aquela história, qual a melhor palavra a ser utilizado, o setup tem que ter um tamanho nem muito longo, nem muito curto, ele tem que preparar para a piada que vai acontecer, ele tem que fazer o público entrar na história, ele tem que fazer o público visualizar a história dele, então ele vai dar uns elementos da história e vai fazer setup-punchline, setup-punchline, setup-punchline… Então, por exemplo, para preparar um texto de 5 minutos muito bom, ele pode demorar as vezes 6 meses, para ter 10-15 minutos, que é um tempo que normalmente o pessoal que faz stand up tem, trechos de 15 minutos, meu… As vezes o cara demora um ano para escrever 15 minutos de uma boa qualidade assim…


Então, resumindo e encerando esse capítulo, é um trabalho de roteirização do início, decorar, pensar, para depois fazer o acting, contar essa piada no momento presente, mas já está tudo roteirizado, tudo pensado antes, tudo preparado e tudo escrito previamente.


(Música)


Já o improviso, ao contrário do stand up, não tem nada preparado. Por isso que no “É tudo improviso”, que era o programa que eu apresentava na Band, eu falava “Aqui não tem nada ensaiado, nada combinado, nada roteirizado, afinal é tudo improviso – É tudo improviiiiiiso, vamos improvisar”, porque é tudo criado na hora.


A gente não tem nenhum roteiro, a gente não tem nenhuma piada preparada, quando a gente cria uma cena de improviso, a gente vai para a cena totalmente vazio, não tem nada roteirizado, nada preparado, nenhuma ideia prévia, “Ah mas Ballas, vocês combinam os personagens que vocês vão fazer durante a cena?”


Não! A gente não combina nada…


“Ah, mas Ballas, eu vi que vocês fizeram uma apresentação muuuuito legal no cemitério, vocês já tinham meio que pensado o lugar?”


Não! Normalmente num espetáculo de improviso, a gente pede para o público dar os títulos, as sugestões, os temas das cenas, para ele ver que essa cena foi criada ali,  aqui agora, no momento presente, né? Então diferente do stand up, no improviso a gente não tem nada… Nada, nada, nada, nada, nada… Então não é melhor nem pior, são duas linguagens diferentes, não tem nada a ver uma com a outra. Quando o cara de stand up vem fazer improviso, normalmente eles sofrem porque na hora você não consegue fazer piada o tempo todo, então eles tem mais dificuldades de improvisar, obviamente. E eu que faço improviso, tenho muito mais dificuldade de escrever um texto, muito mais difícil para mim, então é muito mais relativo, né? O que é mais fácil, mais difícil, são coisas muito diferentes, e acho que agora, eu explicando um pouquinho para você, talvez você esteja conseguindo visualizar, porque que na verdade não tem nada a ver.


Porque o improviso é um exercício de co-criação coletiva, então normalmente são 4 improvisadores, as vezes 5 improvisadores, construindo uma mesma cena a partir de um título que o público deu. Por exemplo a gente pede para o público um local “Ah, fala um local”, sei lá o cara fala FLORESTA,  então a cena nossa vai acontecer na floresta. Vamos ver um conto de fadas rimado na floresta, e daí o improvisador começa.


“Ah, mas que ideia que ele tem?”


Não sei, a gente vai pensar! Então vamos pensar juntos, você que está ouvindo aí… Floresta! O que que você pensaria? O que que tem na floresta? Tem arvores, tem cavalos, tem bichos, tem galhos caídos e quem poderia estar na floresta? Um cavaleiro, alguém num cavalo. Então eu vou começar assim, então é a primeira ideia que eu tive, a segunda e a terceira, eu vou e começo…


 


TOC-TOC… Oh, estou aqui


Não tem nada na minha testa


Estou aqui cavalgando


Aqui nesta floresta.


Vou um pouco mais pra lá


E vejo algo muito belo


Nossa, eu estou vendo lá na frente


Eu vejo um grande castelo.


 


Então por exemplo, o primeiro improvisador entra e faz uma proposta de um cavaleiro que viu um castelo, o outro que está sentado ouve e bom, “Ah, ele falou do castelo, o que que eu vou fazer? Alguém no castelo! O que que tem dentro do castelo? O guarda do castelo, o rei, a rainha, a princesa”, e aí ele pensa “Vou fazer uma princesa”.


Então vai lá em cima e sobe…


 


Nossa, estou vendo alguém cavalgar


Alguém que está vindo ligeiro


Estou vendo ele aqui de cima


Esse moço é um cavaleiro


Oh meu Deus, de onde ele vem?


Será que é do reino vizinho?


Será que ele gostaria de ficar aqui comigo


E juntos criarmos um ninho?


 


Então segundo temos nosso improvisador que fez o cavaleiro, entra uma improvisadora que faz a princesa, e o terceiro improvisador que está sentado, pensa “Temos um cavalheiro, uma princesa que está encantada com ele, algum conflito tem que acontecer”, então entra…


 


Hahaha estou vendo essa cena aqui


Aqui na minha frente


Muito prazer eu sou


A bruxa má e vidente


Vejo que este casal, este casal tão encantado


De longe acha que vai ficar, que vai ficar apaixonado.


 


E aí entra a bruxa que vai fazer um feitiço para atrapalhar e aí a nossa história acontece, percebe? Então é uma criação coletiva de várias cabeças que juntas, vão fazer uma história, que nunca existiu, até que no final alguém vai entrar para concluir, para fazer o arremate, para fazer a  punchline final da cena do improviso, vai falar algo do tipo…


 


E assim eles ficaram juntos


Porque a vida, ela é uma beleza


Este é o final da história do cavaleiro e da princesa


EEEEEEEHHHH PALMAS… PALMAS…


(Música)


Resumindo, o improviso é a arte do aqui agora, do momento presente, da criação, partindo do nada… A gente entra aberto, acena, livre, pleno e disponível para criar e co-criar algo naquele momento presente, que vai ser no aqui agora, vai ser único, irrepetível…


Já o stand up, ele trabalha com uma comédia pensada antes, com a comédia preparada, com a comédia escrita, com a comédia roteirizada, no meu olhar, o stand up ele é uma mistura dessas três coisas, eu falo… O texto, qual o texto do cara, o cara que sabe escrever um bom texto vai já começar de um nível muito mais alto. Na sequência tem o timing, porque é uma coisa que faz toda diferença na comédia, o timing, o momento, as vezes esperar um segundinho, as vezes falar antes que o público entenda a piada, né? Então texto, timing, TT… E a terceira coisa é carisma… Carisma, as vezes o cara não é tão bom no texto, o timing é bom, legal, mas o cara é carismático, o público gosta de ouvir as coisas que ele fala, compra, né? Um bom exemplo é o Marco Luque, o Marco Luque é um cara muito engraçado, porque a gente meio que quer ser amigo dele, né? Eu conheço ele pessoalmente e claro, ele é aquilo que mostra na cena, é um cara gente boa, querido, que quer ser o seu brother, do bem, good vibes e tal, então você embarca na história dele.


Ele é um bom exemplo, por exemplo, de timing e carisma… Aí você pega um Afonso Padilha, que escreve textos interessantes, coisas, textos que te fazem pensar, o Nando Viana que faz uma piada assim “Quem demite o cara do RH, hein?”


Então é punchline… Ele conta, “Outra dia estava ali, viajandão“, setup


“Quem demite o cara do RH?”


Punchline, as pessoas riem tal, tal, tal, tal, tal, tal, tal… Então, agora que você ouviu esse BallasCast, quando alguém falar “Ah eu gosto muito lá do stand up do Ballas“, você já vai poder dizer “Não, não é o  stand up do Ballas, o Ballas nem sabe fazer stand up”, o negócio dele é improviso”, “Ah gostei muito do improviso do Rodrigo Max e do Thiago ventura e do Los Quatro Amigos“…


Não, aquilo lá é o stand up. E cada um com sua beleza, cada um com seu detalhe, cada um com sua destreza, cada um com sua delicadeza, cada um com sua gentileza, cada um com sua certeza, cada um com a sua põe a mesa, cada um com sua realeza, cada um com a sua sobremesa…


E os dois tem em comum que eles querem fazer as pessoas rir. Eles querem que as pessoas fiquem mais felizes, eles querem que as pessoas se olhem, eles querem que as pessoas se identifiquem, riem juntas, coletivamente, fiquem mais felizes e passem momentos incríveis, momentos agradáveis, momentos engraçados, momentos divertidos, momentos zombeteiros, momentos galhofeiros, um momento de vida onde todos estão lá para rir de si e rir do outro, afinal o riso é do ser humano, e todos somos humanos.


Sendo assim… Fim do episódio… N-O-W!


(Música)


Muito bem, muito bem, muito bem, chegamos ao final de mais um episódio (AAAAHHH), mas na segunda feira que vem tem mais (EEEHHH)


E se você ainda não conhece o BallasCast que é o grupo que a gente tem no Facebook, entra lá, porque lá eu coloco conteúdos exclusivos, eu coloco algumas informações que não dá para ver no áudio, as cenas, exemplo… Eu coloco algumas coisas que eu me refiro lá, então, entra lá… Um grupo que tem pouca coisa, muito legal, divertido, bacana… Entra lá no BallasCast, me pede que eu te aprovo, e sendo assim…


Obrigado pela sua orelha emprestada para mim nesse exato momento…


Thank ladies and gentlemans


Djedjfkfolsçfocwnepr


Rwer fevngutpmiedlrouef


Bye bye