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BallasCast – Episódio 30 – Leo Bassi: O palhaço provocador

EPISÓDIO 30 – LEO BASSI: O PALHAÇO PROVOCADOR.


Senhoras e senhores, ladies and geeeeeeeeeeeeentlemans, madames et messieurs, psicopatas e psicopatos, está começando mais um…


BALLASCAST.


MÚSICAAA.


Olá, olá, olá, seja absolutamente bem-vindo ao BallasCast, sempre um pleasure to have you here.


Na semana passada a gente fez um episódio sobre improviso, falando de improviso, antes a gente fez entrevistas, que eu estou preparando entrevistas incríveis para logo.


Mas hoje eu resolvi falar de um palhaço incrível, que eu acho incrível, e que eu tive um encontro com ele e queria compartilhar hoje aqui, com vocês.


Sendo assim, seja muito bem-vindo a este episódio que começa… NOW!


(Música)


LEO BASSI – O PALHAÇO PROVOCADOR.


(Música)


Hoje eu quero falar sobre Leo Bassi!


Leo Bassi é um palhaço, ou outras pessoas falam que ele é um bufão, mas ele é um artista italiano, morou na Itália poucos anos, depois foi passear pelo mundo, hoje mora na Espanha.


E ele é de geração de circo mesmo, ele é de seis gerações da família dele circo, eram malabaristas e tal, e ele nasceu no circo, morou no circo, e num determinado momento ele resolveu sair do circo porque ele queria conquistar o mundo.


Ele se cansou um pouco, segundo ele, e foi trabalhar sozinho, e ele hoje é um palhaço mega conhecido, roda o país, e ele veio há uns oito anos atrás aqui para o Brasil para apresentar o espetáculo dele “Instintos Ocultos”.


E pra começar falando dele, eu queria falar assim, o Leo Bassi é um cara muito provocador, é um palhaço de esquerda assim, ele acha que o palhaço tem que ser político e que tem que falar as coisas, tem que revelar as coisas.


Então os espetáculos dele são muito, muito, muito políticos, muito provocadores.


Ele tem espetáculos que ele fala mal de religião, ele tem espetáculos e intervenções que ele fala mal da política, da Espanha principalmente, onde ele mora.


E ele veio ao Brasil apresentar esse espetáculo que é “Instintos Ocultos”, nesse espetáculo você já saca o naipe do cara, porque o cara, você vai espera um palhaço que é bonzinho, não, não, não, ele é quase do mal, no sentido assim, de que ele deixa o público tenso.


O espetáculo inteiro, no momento por exemplo, ele pega oito latas de coca cola, pega uma furadeira, fura elas, e sai na direção do público.


Outra hora ele pega põe fogo no palco assim, num pedacinho do palco, depois começa a espalhar querosene pelo palco inteiro, então você vai ficando meio com medo que o cara possa fazer alguma coisa real.


Aí uma hora ele fala assim:


“Ah, porque as marcas hoje em dia, as pessoas ficam vestindo roupas de marca e eu não entendo, como é que alguém veste roupa de marca?


A pessoa paga uma fortuna pra comprar uma camisa, ainda tem a marca da camisa ali, explicita, ao contrário, as pessoas deveriam receber pra usar uma camisa com uma marca, escrito sei lá, Cavaleira, escrito Adidas, escrito Rolling Stones”.


E aí ele vai andando pelo público até que ele encontra um cara, com uma camisa de futebol, com o símbolo da Nike, ele olha assim pro cara e faz… HÃÃÃ.


Aí ele olha assim pro cara…

“Olha, escuta, seguinte… eu tenho uma tesoura aqui, e eu tenho uma proposta pra você. Você me dá a sua camisa e eu vou cortar esse símbolo da Nike que não te pagou nenhum centavo pra tá aí, mas a camisa é sua, quer dizer, você tem a opção de falar não, não quero, e eu vou respeitar você 100%.


Agora se você dizer não, você vai ficar feliz, mas essas 499 pessoas aqui vão ficar um pouco tristes, agora se você disser sim, essas 499 pessoas vão ficar em êxtase, elas vão ficar muito feliz, elas vão pirar… o que que você acha da minha proposta”


Aí o cara pensa assim, inicialmente ele fala “não”.


Aí ele fala “Poxa, são 500 pessoas, vamos deixar as pessoas felizes”.


Aí o cara fica assim sem graça, “tá bom”.


Aí começa a tocar uma música, um rock and roll, ele pega a tesoura, corta a camisa do cara, corta o símbolo da Nike, vai pro palco e começa a dançar, e as pessoas ficam muito felizes e falam “MEU, QUE LOUCO”.


Tal, tal, tal… depois conversando com ele fora, você descobre que não, o cara era combinado, ele faz tudo isso combinado.


Quer dizer, ele quer causar nas pessoas, na hora ali, sentimentos, sensações assim, que sejam muito, muito incríveis, intensos a flor da pele.


Uma informação importante pra começar contando sobre Leo Bassi, é que ele é cidadão italiano, só que aconteceu um evento na Itália para políticos, e ele se infiltrou lá, ele entrou com terno gravata, bonitinho, e entrou lá.


E aí ele tava lá, começou a conversar com um, começou a conversão com o outro, tal, tal, tal… e aí ele pegou um diplomata do Canadá e falou “escuta, vem cá, vem cá, tira o sapato, tira a meia, vem cá, entra comigo aqui na fonte, aqui na Itália é uma tradição a gente dançar na fonte descalço”.


E ai o cara foi lá, entrou e começou a dançar com ele, nisso os fotógrafos tiraram fotos e tal, e depois essa foto saiu no jornal e descobriram que era tudo uma farsa, uma brincadeira, uma mentira, e aí pegou muito mal, rolou incidente diplomático, ele acabou meio que sendo expulso da Itália, acabou morando na Espanha, onde ele tem base até hoje.


Então ele é esse cara que fica provocando em vários lugares.


(Música)


E quando ele veio ao Brasil, eu soube disso e fui atrás da organização do evento pra tentar organizar um curso com os palhaços daqui, consegui e eu organizei um curso pra galera do Jogando no Quintal que era meu grupo de palhaços na época.


Então no dia seguinte eu fui buscar ele de manhã, ele tinha o dia livre e a noite era o nosso curso.


Como ele tava livre, eu era o Cicerone dele, eu fui lá busca ele, morrendo de medo assim.


O que que eu faço com ele né?


Ele espanhol, morou na Itália, é difícil achar programa pra gente que rodou o mundo né?


Mas assim, mas eu fui lá preparado para várias opções, então quando eu recebi ele eu falei:


Leo Bassi, o seguinte, o que que você quer fazer?


Se você quiser ir ao museu, tem o MASP, tem a Pinacoteca, se você quiser ir no parque, tem Ibirapuera, tem Villa Lobos, se você quiser comer separei uns lugares legais, a Dona Onça, o Mercadão, Spot, Le Jazz, uns lugares mais fancys… sobremesas tem o quindim da Ofner


Eu separei um monte de programas, aí ele falou assim:


– Marcio, yo quiero ir a una iglesia.


Eu falei:


– HÃ?


Ele tem esse espanhol assim, com esse sotaque assim “Yo quiero ir a una iglesia, una iglesia muy grande”.


– Que?


– Una iglesia, de estas así muy grandes.


– Iglesia Leo?


Ele falou:


– Sí, sí, porque estoy preparando una obra nueva sobre la locura que son los, quiero ir en la iglesia.


E lá fui eu pensar onde que tinha uma igreja pra levar o Leo Bassi no tour dele, de dia, na cidade de São Paulo.


Pedido feito eu tava lá pra fazer o que ele queria, eu levei ele ali naquele igreja gigante que fica ali na Zona Leste, na entrada da Radial ali, e ele ao contrário do que você imagina, um palhaço que vai falar, que vai brincar, ele ficava quieto, ele não falava nada.


Então aos poucos eu fui fazendo umas perguntinhas pra puxar um papo e pra aproveitar que ele estava lá, eu falei:


– Ah Leo Bassi, como é que você começou, porque eu sei que você era do circo e tal…


E aí ele contou que ele começou a fazer shows na rua, e que começou a ficar cada vez melhor, cada vez melhor, ele é muito bom malabarista, mas ele sempre trabalhava com outras pessoas e começou a fazer sozinho.


E ele conta que um dia ele tava fazendo um show e conseguiu angariar um monte de gente, tava lá, 200 pessoas, a galera pirando, no auge do show dele, quando de repente do outro lado da rua, um ônibus bateu e atropelou meio que um ciclista.


Então numa batida o ciclista caiu no chão, nisso todas aquelas 200 pessoas que estava lá, imediatamente saíram do show dele e foram lá ver “que que aconteceu”, “que que aconteceu”, “que que aconteceu”.


E aí ele perdeu todo o público dele de uma vez, e aí ele conta que ele teve um insight


Que poxa, a vida real, acontecimentos fortes, muitas vezes eles são mais fortes do que a própria teatralidade, do que um número, do que algo que você faz.


Então ele começou a trazer para os espetáculos dele isso, essa coisa que é real, que se aproxima muito da realidade, da tensão.


Então no show dele ele faz essas coisas, ele pega quatro pessoas da plateia, hipnotiza as pessoas, no final você descobre que não, era mentira, ele não tava hipnotizando porra nenhuma.


Ele pega um cara numa cadeira de rodas e fica brincando com o cara e o público fica todo tenso, depois você descobre que era mentira, que era tudo… ele trabalha muito essa tensão de verdade não verdade né?


E ele conta, ele fala:


– Marcio, el circo no és más el mesmo hace muy tiempo.


E ele contou uma coisa muito interessante, ele era de circo mesmo, ele rodava com o pai dele, com a família dele, com o circo, e uma coisa que ele me contou que eu nunca soube, nunca percebi é que assim…


Naquela época o circo tinha um papel muito importante, que era o que?


Quando eles andavam, viajavam de circo, as pessoas conheciam muitas coisas, muitas novidades, principalmente de animais e de coisas que elas nunca tinham visto, através do circo.


O cara nunca tinha visto um elefante, um dromedário, um pinguim na vida, na época não tinha TV, não tinha internet.


Então quando chegava um elefante pra uma pessoa que nunca viu um elefante era uma coisa muito incrível, era uma coisa fora de série, impressionante.


Diferente de hoje em dia né?


Então essas novidades não são mais novidades, né?


Outra coisa é que quando o circo chegava ele trazia notícias e novidades dos outros povoados, eles vinham de uma cidade e quando eles chegavam nessa outra cidade as pessoas “E aí, o que que tá acontecendo lá? Como é que tá a situação lá? ”.


Então eles eram portadores de novas, novidades, de coisas que estavam acontecendo em outros lugares.


Outra coisa também interessante é que o circo era responsável por comércio, as pessoas no circo faziam comércio de cavalos, comércio de especiarias, formavam-se feiras, então tinha um porquê muito forte do circo acontecer.


E ele me contou também uma coisa que eu achei muito engraçada, que ele, naquela época ele era pequeno e ele lembra que tinha no elenco do circo, um negro que era chamado de “o canibal”, e ele chegavam na cidade e anunciavam…


“VEJAM, ESTE CANIBAL, ELE COME PESSOAS, O HOMEM SELVAGEM”.


E eles colocavam esse negro numa jaula e ficavam anunciando para as pessoas como se fosse uma coisa de outro mundo, e as pessoas em várias cidades europeias nunca tinham visto negros, ou tinham visto pouquíssimos, alguns lugares nunca tinham visto, então era uma coisa muito louca.


E esse negro era mais um trabalhador, tanto que, ele conta, que ele tinha que ir comprar comida pra ele, ele era amigo da galera, mas eles usavam ele pra fazer a publicidade do circo.


– Oh Leo Bassi, o que que você tá aprontando lá na Espanha, né?


– Ahora tengo um projecto qué se llama Bassibus, El Bassibus es el pior de Madríd!


– Como assim Bassibus? Leo Bassi, Basibus? Você fez um ônibus, o que que você fez?


Olha o que ele aprontou lá… ele fez um ônibus de turismo, tipo esses city tour, Lo Mejor de Madrid, com Lo Peor de Madrid…


Então nesse ônibus ele passava por vários lugares, coisas que o governo queria esconder dos turistas, ele mostrava… então o lixão de Madrid, passava numa casa de um político que era conhecido por ser ladrão e ele tinha uma casa milionária, então ele passava nesse lugar.


Então ele andava pelos piores lugares de Madrid, com o Bassibus, Lo Peor de Madrid.


Tinha uma outra coisa que tinha muita curiosidade, porque assim, ele trabalha num humor muito político, muito forte:


– Mas crianças? Porque hoje em dia o palhaço é muito associado as crianças né? Então como é que você lida quando tem criança?


Ele falou:


– Voy a contar una historia, una vez llegué a um show em la calle y estaba ahí, entre niños sentados…


E ele começou a contar de que um dia ele foi fazer um show, e quando ele chegou no show tava tudo armado já, e já tinha 70 crianças sentadas lá, e poucos adultos no fundo.


E os adultos foram chegando, chegando, e tinha aquele monte de moleques lá, e o show dele não é nada pra criança, ao contrário, as crianças odeiam…


E ele falou “meu, não vai rolar”, e ele começou a ficar desesperado, começou a pensar, “poxa, eu preciso fazer alguma coisa, preciso fazer alguma coisa”.


E aí o que que ele fez?


Aí ele foi lá, andou uma quadra lá e tinha uma sorveteria e ele falou:


Escuta, seguinte… toma aqui… 70 sorvetes aqui.


-70?


– É, não, as crianças vão vir buscar… deixa separado, beleza?


– Beleza!


Aí ele volta lá e fala:


– Venhas, venhas, há helados gratuitos, ali!


Aí os moleques….


EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE….


Os moleques saem correndo, vão lá pegar os sorvetes e ele começa o show dele.


(Música)


Bom, finalmente chegamos na tal igreja, aí a gente entrou, e é muito louco né?


Quando você vê essas pessoas artistas, pensando, criando, você vê ali, lá matutando, com caderninho, escrevendo algumas coisas.


E ele não é de bater papo, de compartilhar… então eu ficava ali, junto com ele e tal, e aí a gente entrou na igreja principal, e ele começou a contar, contar, ele fez uma conta de quantas cadeiras têm…


– Duas mil y quinientas sillas, IMPRESIONANTE! MIRA ISTO!


Aí ele ficava tudo muito impressionado, aí ele andou, ele foi andando na frente, uma hora ele…


– AH MARCIO, MIRA ISTO, MIRA ISTO… mira isto, UMA LIVRARIA, UMA LIVRARIA, PERO MIRA, UMA LIVRARIA COM UNO SOLO LIBRO!


Né?


Porque ele tava achando incrível, porque a livraria só tinha a Bíblia, então era uma livraria de um livro só… anotou no caderninho dele.


Então é louco como você vê o processo criativo de cada um né?


O cara tava fazendo um show sobre a igreja, sobre os evangélicos, sobre as coisas da igreja e ele foi atrás e ver como é que eles fazem lá e ver os detalhes dos lugares, enfim…


Depois de uma hora e meia, percorrendo a igreja, todos os lugares, ele finalmente disse:


– Podemos ir embora!


Então fomos embora e fui levar ele pra almoçar porque na sequência ele ia descansar e a noite ia fazer o curso com a gente.


E na hora de ir embora ele me perguntou:


– Ah tienes o Gran Hermano?


Gran Hermano? O que que é isso?


Fui entender depois que o Gran Hermano, era o famoso Big Brother, né?


Que lá chamava Gran Hermano


E aí ele me conta a história que aconteceu com o Gran Hermano en Espanha… que que aconteceu lá?


Ele soube onde era a casa, onde ia acontecer as gravações do Big Brother lá na Espanha, então o que que ele fez?


Ele alugou a casa ao lado!


Ele foi lá e alugou a casa ao lado, olha a loucura que é a cabeça de alguém que quer provocar e que quer fazer coisas… ele gastou uma grana simplesmente pra tentar fazer alguma coisa, pra tentar atrapalhar El Gran Hermano, que é uma coisa que ele luta contra, que ele acha um absurdo e tal.


Então ele simplesmente alugou a casa ao lado e quando começou o programa, as gravações do programa, ele pegou uns autofalantes gigantes, colocava música clássica, e ele lia trechos do livro “1984” do George Orwell, né, que foi o criador do Big Brother, e ele lia trechos num volume alto e isso vazava na transmissão e começou a atrapalhar a gravação do Big Brother Espanha.


Como se não bastasse, ele ainda pegou e montou um andaime de nove metros de altura… é!


Olha o trabalho que o cara tem, ele pegou fez um negócio de nove metros de altura e de lá começou a fazer umas imagens piratas, umas imagens escondidas de lá, da piscina lá do vizinho, do Gran Hermano.


Os produtores do programa começaram a tirar eles de lá, lançaram jatos de água, tentaram cobrir com uma lona, depois eles proibiram os participantes a usar a piscina, quer dizer, ele realmente atrapalhou o programa, os caras não podiam mais sair fora.


Depois disso quando um dos últimos participantes foi eliminado da casa, e naquela hora que tem a entrevista tal, ao vivo, ele colocou uma sirene da marinha soviética, pra atrapalhar, isso realmente vazou na transmissão, enfim…


O fim da história é que ele acabou preso, ele foi preso por conta disso lá na Espanha, fazendo essas loucuras.


Enfim, se você quiser conhecer um pouco mais sobre ele Leo Bassi, se escreve, L-E-O-B-A-S-S-I.


ELE ESTÁ na ativa, faz shows pelo mundo, e é um cara que eu acho que vale muito a pena conhecer porque ele tem essa coisa provocadora, essa coisa que mexe e faz as pessoas pensarem e as pessoas se mexerem e as pessoas reagirem as loucuras que passa na cabeça dele.


E pra terminar eu queria citar uma frase dele que diz.


“A VERSÃO ATUAL DO PÃO E CIRCO É O FUTEBOL E A TV”


Fim do episódio.


(Música)


Muito bem, muito bem, muito bem, chegamos ao final de mais um BallasCast (AAAHHH), mas na segunda feira que vem tem mais (EEEHHH).


E se você quiser entrar no BallasCast, que é um grupo que a gente tem no Facebook, entra lá… eu te aceito é só você pedir a permissão, é muito legal porque lá eu coloco conteúdos exclusivos, coloco algumas coisas extras…


Agora eu vou colocar alguns videozinhos do Leo Bassi pra você ver ele em ação.


Então entra lá, se você quiser, se você não quiser não entre.


Because you’re free, my friend!


Sendo assim…


Thank you very much…


And nslfniwehrg


We cajpijgJLUGLBIUG


Bye bye!