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BallasCast – Episódio 54 – Entrevista com Allan Benatti (Parte 1)

EPISÓDIO 54 – ENTREVISTA COM ALLAN BENATTI (PARTE 1).


Senhoras e senhores, ladies and geeeeeeeeeeeentlemans, madames et messieurs, policias e policios, está começando mais um…


BALLASCAST…


MÚÚÚSICAAA!


Olá, olá, olá, seja muito bem-vindo, enormemamente bem-vindo ao BallasCast.


Hoje está aqui um dos meus grandes parceiros de cena, ele é ator, ele é palhaço, ele é improvisador, ele fez Jogando no Quintal comigo nos primórdios, ele fez Doutores da Alegria, testes junto comigo nos primórdios, ele fez Os Camaradas, que é um espetáculo só eu e ele, ele fez Caleidoscópio que é um espetáculo de improviso comigo, ele fez Improvável, com os Barbixas, ele fez É Tudo Improviso na Band, ele fez várias coisas, mas hoje ele  está aqui, salva de palmas pra ele… ALLAN BENATTI!


– Ballas, que gentileza! Também te amo!


– Eu também te amo! Gente, eu nunca tinha pensado em quanta coisa a gente fez junto!


– É verdade!  A gente fez bastante coisa junto…


– E fora que ele da aula no meu espaço casadohumor.com.br


– E o semestre… Oh, o segundo semestre já está quase lotado, é melhor ir logo fazendo todos os cursos de lá!


– Se inscreve aí independente de quando você está vendo esse vídeo, em alguma hora o Allan vai estar dando aula em algum, porque ele é um puta professor, enfim, bem-vindo… Allan, a gente se conheceu num teste para fazer parte dos Doutores da Alegria, há dezoito… Dezoito anos atrás!


– Dezoito anos atrás…


– Dezoito anos atrás…


– Há exatamente dezoito anos atrás!


– Eu me lembro que eu estava voltando ao Brasil e eu cheguei, eu cheguei no teste e a gente se cruzou lá!


– Exatamente! Eu fiquei, eu conhecia você antes de te conhecer…


– Como?


– Porque eu era amigo da Gabi, e a Gabi já te conhecia porque foi dar aula no seu lugar quando você foi pra França…


– Verdade!


– E aí ela me falou “Ah o Marcio eu conheço o Marcio, o Marcio, puta… É um cara legal, foi estudar lá fora, no Lecoq na França”. E eu lembro quando eu te vi no teste na hora eu falei “Cara, esse cara é muito bom, esse cara é muito bom”, na hora eu falei assim!


– Olha só! E eu não porque a gente tava, não só porque você falou isso, mas eu também tive esse pensamento, eu falei “Nossa esse moleque é muito bom”, e você era jovem na epoca… Você tinha quantos anos?


– Putz, oito anos a menos? Eu estava com vinte e… Ai cara, trinta e…


– Enfim… Mas eu lembro que você tinha um tipo jovial assim, fazia umas mágicas e umas bobeiras, e o teste tinha muita gente, acho que tinha umas 300 pessoas e a gente foi passando de fase, passando de fase, passando de fase, e você foi até a ultima fase…


– Fui até a ultima!


– E eu lembro que eu falei “Nossa, eu escolheria ele e…” a Gabi também estava no teste…


– Também!


– E no final você bateu na ultima parte e não passou…


– É, na verdade aquele teste tinham muitos palhaços muito bons e muitos palhaços com a mesma família na verdade né?


– Sim!


– E o Doutores da Alegria me falou uma coisa que pra mim batia muito, porque tinha a Val, foi a Val que passou, eu não passei… A Val era uma palhaça incrível, mas é uma palhaça das palhaças tradicionais…


– Circo, que fazia…


– Então eles queriam mudar um pouco a energia também, não manter essa energia meio palhaço clown, que veio da formação da Quito e tudo mais né?


– Legal!


– E foi maior legal…


– Você começou a estudar palhaço com a Bete Dorgam?


– Eu comecei a estudar palhaço com a Bete Dorgam na oficina Mazzaropi ainda, quando ainda era na Bresser, não era nem no prédio novo que agora é o prédio da ESP né? Não era nem nesse prédio ainda, e eu lembro que eu comecei a fazer com ela e foi por acaso, porque eu me inscrevi pra fazer lá na Mazzaropi com a Cida Almeida


– Palhaço?


– Palhaço!


– Mas você já tinha feito teatro?


– Eu fazia teatro tudo amador, não tinha feito nenhum espetáculo profissional ainda nem nada, tava descobrindo… Eu lembro que eu resolvi fazer palhaço quando eu fui num festival que era um FEAT que tinha aqui em São Paulo, e eu fui assistir um espetáculo que se chamava MegaBox, e era uma caixa enorme assim…


– Ah eu vi!


– Montada…


– Na rua?


– Lá no parque do Ipiranga!


– No Ipiranga


– No parque do Ipiranga!


– Eu vi esse espetáculo!


– E eram três caras que tinham a cabeça raspada e o óculos preto, e naquele momento que eu vi aqueles caras eu falei “Isso é palhaço, eu quero fazer isso”.


– E aí você foi atrás?


– Aí eu fui atrás, e impressionantemente na Mazzaropi, no semestre seguinte, apareceu um curso de palhaço com a Cida Almeida que tava grávida de gêmeos…


– E aí mudou…


– E teve que sair e a Bete tomou o lugar dela.


– Que que você lembra desse curso da Bete assim que você falou “Nossa, o palhaço é isso, é isso”, até porque a maioria das pessoas veem o palhaço né, tem essas imagens né, ” Ah o palhaço”, efim… Tem as vezes Bozo… Qual são as coisas que você lembra, porque depois você virou palhaço, hoje você dá aula de palhaço, hoje você é um professor, mas naquela época que você era aluno, o que que te vem de ensinamento, de coisas, um exercício, o que vem a cabeça?


– Me vem uma cosa muito engraçada que era a sensação de não entender porque as pessoas estavam rindo dos meus exercícios.


– As pessoas já riam de você antes?


– Elas riam dos meus exercícios e eu meio que não entendia, e eu olhava pra elas e era uma triangulação natural de quem pergunta “Mas cara, o que que tá acontecendo ali assim sabe…”


– Pausa técnica! Pra você que não sabe o que é triangulação, momento explicação técnica palhaço, o que é triangulação?


– TRIANGULAÇÃO nada mais é que do que o comentário silencioso e sincero emocional de um palhaço, é aquele momento em que ele está numa ação com alguém e ele joga para o público dizendo o que realmente ele sente ou tem de afeto com o que está acontecendo naquela relação e com isso volta a interagir com o objeto de ação.


– Isso chama-se triangulação, parênteses fechado, então as pessoas riam. Agora, você já era engraçado? Você era o engraçado da turma? O cara divertido do fundo, que contava piada?


– Então, isso é engraçado porque eu nunca me senti isso, e se eu  ficar resgatando na minha mente, eu lembro que, ah sim, muitas pessoas riam do que eu fazia, mas eu nunca me coloquei como foco, ou quis ser o engraçadão, sempre era a partir de alguma relação, eu lembro que eu ria muito dos meus amigos também, então eu lembro do ambiente de diversão assim, o meu ambiente era um ambiente divertido, mas se você falar “Você era o engraçadão”, não, eu me divertia com todo mundo assim.


– Agora, hoje olhando, porque que você acha que eles estavam rindo de você? Que que tinha lá que tipo “ah isso aqui…”


– Caramba meu…


– É uma pergunta… Eu acho que eu vou te dar um pouquinho da, o que eu acho, eu sou bom, que é o que a gente quando dá aula vê nos alunos. O NÃO querer ser engraçado que você já falou, provavelmente, eu não sei, tô chutando, me fala se eu estiver errado, pode falar, não é porque o programa é meu que…


– Não, é isso mesmo!


– Assim, talvez o fato de você não querer ser engraçado acabava sendo engraçado, você acha? Ou a maneira com que você fazia, ou uma espontaneidade que você tinha, e pra você era, você tava fazendo aquilo lá e era isso que a Bete estava buscando e não alguém que quer ser engraçado, você acha que tem a ver essas coisas que…


– Eu acho que tem a ver, inclusive a Bete no final desse curso, do curso, ela começou a me chamar de Buster Keaton


– Olha!


– Porque o Buster Keaton foi um palhaço que era conhecido pela seriedade no rosto dele…


– Legal!


– Pela… E ela me chamava de Buster Keaton, ela achava isso… E era serenidade, não era seriedade… Era serenidade…


– Serenidade, boa! Legal o que você tá falando, porque quando a gente trabalha o palhaço, as pessoas que vem aos cursos, as pessoas que falam “Ah quero”,  elas tendem a querer ser muito engraçadas, quer fazer engraçado, quer falar uma coisa engraçada, ou quer fazer um gesto engraçado, ou quer fazer um pum, ou fazer uma piada ou uma coisa, e trabalha exatamente o contrário, pelo jeito você sacou isso muito rápido, ou ingenuamente foi com tudo e a Bete falou “Legal isso aí”, porque era serenidade, ela traz graça, traz humor,  traz uma coisa assim “Ah, eu quero ver esse cara”, e aí ela começou a te chamar pra trabalhar na companhia dela?


– E aí… Não, aí eu, a Gabi e o Denis, eu conheci os dois nesse curso da Bete, a gente se colou (PAF), então a gente teve uma afinidade muito grande por gostar do trabalho do outro já de cara, como no teste no Doutores da Alegria, meio que a mesma sensação com eles nas aulas, e tinha mais um ainda, que era o Rafa, que acabou abandonando o teatro e foi viajar o mundo. Aí a gente se colou e a gente ia atrás da Bete em tudo que ela fazia, então ela tinha um curso que ia dar lá na Zona Norte, então a gente ia. Outro que, e procurando tudo, tudo, procurando sempre os grátis, ou ganhando uma bolsinha aqui, uma bolsinha ali, que eu sou Zona Leste né mano?


– Então, você é ZL né mano?


– Sou Zona Leste!


– O nome do Allan quando tá em cena é Chabilson né? E já no Jogando, quando ele entrava no palco o slogan dele era “Chabilson, o palhaço da Zona Leste“.


– É invasão, é invasão!


– Ele entrava já… Como que era a sua entrada? Chabilson, o palhaço da Zona Leste…


– É invasão porra, abaixa tudo isso aqui porra! E pá, pá, pá, pá, pá…


– É isso aí, ele chegava com tudo e o público até dava uma assustada… Periferia! Tipo, sangue no zóio!


– Sangue no zóio!


– O público ficava assim assustado porque realmente você é ZL mesmo.


– Eu sou da ZL, eu sou da ZL, ali do Belém, e trabalhei e vivi muitos anos na cidade Patriarca, Vila Nhocuné, que é mais pra dentro da Zona Leste.


– Salve o pessoal da vila


– Salve! Salve o pessoal da cidade Tiradentes, sou frequentador da cidade Tiradentes, lá tem um centro cultural incrível, maravilhoso!


– E Vila Nhocuné, que eu não sei onde é, um salve pra vocês também!


– Salve Vila Nhocuné.


– Tem vários ouvintes de lá!


(Música)


– E aí como continuou? Bom, aí você começou a ser mais profissional, começou a entender a linguagem, começou a pesquisar, já virou palhaço, já fez espetáculo, daí…


– Isso! Isso daí vamos supor, a gente tá falando um período de dez anos…


– Sim! Uns dez aninhos!


– Uns dez aninhos aí!


– Que também é uma boa ressalva pra dizer porque, palhaço, “não agora vou virar palhaço, ah eu quero ser palhaço Ballas”. Legal! Precisa estudar, é que nem quando você quer ser advogado, você precisa fazer um curso de cinco anos, pra depois fazer uma OAB, pra depois… Então assim, dez anos é um período de estudo, de fazer, e mais… A gente tá onde mais ou menos aí?


– A gente tá mais ou menos em 2000 vai… Em 2000, que foi quando eu falei “meu não adianta, eu tô já há tanto tempo aí e não ganho dinheiro, vou fazer uma faculdade…”


– Opa! Resolveu estudar!


– Resolvi estudar, nunca fui um bom aluno, nunca gostei de estudar, falei vou estudar, não quero nem saber, tem que ter uma formação. Fui fazer fotografia, só que na mesma época que eu entrei na faculdade, esses caras me convidaram pra fazer o Jogando no Quintal.


– Esses caras são a gente?


– Você e o Cesar Gouveia né? Marcio Ballas…


– Legal, por causa do…


– A gente se cruzava já na epoca de amigos assim…


– Eu fazia o Chá de Alice


– Ah lembrei!


– Eu fazia o Chá de Alice, e aí era esse mesmo grupinho que dez anos ficou junto, eu, Denis e Gabi


– Sim! Vocês três!


– Junto com a Bete Dorgam


– Denis Goyos, Gabriela Argento que hoje está no Cirque Du Soleil, e a Bete Dorgam que é uma das grandes mestres de palhaço no Brasil, e faziam o Chá de Alice, que era um espetáculo incrível, que eu assisti e gostei muito, e inclusive eu substituí você ou o Denis?


– Você me substituiu.


– Eu tive a honra de te substituir.


– Porquê?


– Porquê?


– Porque eu tinha entrado na faculdade e não podia faltar tanto de manhã. E eram apresentações de manhã.


– Ah entendi. E daí o que aconteceu, que eu lembrei, é que a gente começou a fazer os primeiros ensaios do Jogando no Quintal com o Cesar no quintal da casa dele. Eu tinha visto o improviso lá na França, contei pro Cesar, ele falou “Nossa, será que a gente consegue”, a gente começou a pesquisar e uma hora a gente poxa, chamamos a Paulinha e a gente falou “Agora a gente precisa fazer um jogo contra alguém, vamos chamar o Denis, o Allan e a Gabi? Vamos”, a gente chamou vocês, e no dia que a gente chamou a gente já tava treinando há um tempo, e eu não sei se você sabe disso, e a gente falou “Putz, coitados, a gente vai dar uma lavada”. Porque a gente já tava jogando, já tinha treinado os jogos e tal, e aí o jogo foi mega empatado assim, eu nem sei quem ganhou, mas foi um jogo muito pau a pau. E a gente falou “Nossa”, e quando acabou, eles eram só convidados, vieram pra fazer e tal, e quando acabou “Cesar, a gente tem que chamar esses caras aí pra dentro, porque esses caras tão no nosso nível sem treinar”. E o Allan era o primeiro, porque desde  o teste eu tinha realmente gostado muito de você, eu achei você muito bom já na epoca, e já tinham passados alguns anos e aí você veio, você foi um dos primeiros da turma que começou já nos ensaios, a fazer toda a criação, você é um co-criador do Jogando né?


– É! Legal! Eu me sinto assim sim!


– Sim, total! E aí bom, Jogando no Quintal eu conheço bem, é… O Jogando deu aquela estourada, a gente começou a apresentar…


– Exato!


– O Allan era uma das sensações do Jogando né? Há quem diga que era, o camisa 10.


– Olha aí!


– Ah, o melhor pra mi é o Chabilson, porque tinha isso, “Ai, eu gosto mais do Ballas, ai o Ballas…” E eu gostava de perguntar para as pessoas, porque cada um gosta de um… E óbvio, eu me tirava da escolha porque eram meus amigos, então fora eu, esquece… Quem que você acha que? “Ah o Chabilson, o Chabilson, ai o Chabilson” e aí o Chabilson (VUM), voou ladeira acima…


– Foi…


– Na vida e no mundo, nas artes, junto com as coisas que você tava fazendo né?


– É!


– E aí improviso, a gente começou a conhecer o improviso como linguagem separada do improviso. Como é que foi pra você, eu estava do seu lado, mas não sei o que passou na sua cabeça, quando a gente, quando é que você viu, quando a gente fez o primeiro festival talvez?


– Ah, quando a gente fez o primeiro festival, que foi naquela Colômbia e Argentina convidadas, aliás é a terceira vez que eu estou nesse podcast…


– Verdade!


– Você já citou meu nome três vezes!


– Três vezes, você estava no Jogando no Quintal, você tá no Festival, no qual fomos campeões mundiais de improviso juntos…


– No Caleidoscópio!


– No Caleidoscópio! E agora me conta assim, quando a gente fez aquele festival, então a gente trouxe um grupo da Argentina e um grupo da Colômbia porque a gente queria saber mais sobre improviso, porque naquela época a gente era palhaço.


– Exato!


– Quando você viu os caras, porque inclusive você não tinha nem visto nada de improviso…


– Não! Eu não tinha visto e eu não tinha, eu não tinha estudado espanhol…


– Sei…


– E eu tava, eu tava, me ferrando no espanhol naquele festival já.


– Sei. Agora eu queria que você tentasse lembrar quando você viu o primeiro espetáculo de improviso forte, foi o Triptico.


– Foi o Triptico, o Long Form, acho que… Mas o que me abalou mesmo foi o Triptico.


– Quando você olhou o que você falou?


– Eu fiquei, e esse que eu tô falando, e mesmo sem entender tanto espanhol assim, pra mim eu falava assim, cara isso é possível, isso é possível, pra mim me veio essa sensação. Porque eu sempre fui palhaço, mas eu sempre fiz espetáculos como ator assim, então ser ator sempre foi uma coisa que me mobilizou também assim sabe? De querer ter um bom texto, de falar coisas que interessam pras pessoas, pra mim, coisas minhas mesmo assim, porque teatro é comunicação né? Então falar essas coisas que me angustiam, ou que me provocam a respeito do mundo em cena, é uma coisa que me fascina, me fascina muito!


– Isso que você disse quando você falou “Isso é possível”, isso o que é possível?


– É possível tocar as pessoas sem ser só pelo humor…


– Ah legal…


– Ah, numa improvisação, num teatro de improvisação.


– Legal!


(Música)


Muito bem, muito bem, muito bem, chegamos ao final de mais um episódio (AAAHHH)…


Chegamos ao final de mais um episódio (AAAHHH) mas na segunda feira que vem tem mais (EEEHHH).


– EU


– GOSTARIA


– MUITO


– DE


– AGRADECER


– A


– VOCÊ


– QUE


– OUVIU


– O


– PODCAST


– DE


– BALLAS


– ENTÃO


– FIQUE


– ATENTO


– POIS


– TEREMOS


– SEMANA


– QUE


– VEM


– MAIS


– UMA


– NOVA


– PESSOA


– INSCREVA-


– SE


– AQUI


– OU


– CLIQUE


– A


– LI!


– HAHAHAAH


– IMU…


– NIDADE!


– EEEEEEHHHHHH